As duas máscaras conversam…

Neste entardecer muito ventoso de Fevereiro, dei por mim a reflectir nas voltas que o tempo e as coisas dão, entrelaçando-se sem que sejamos ouvidos e achados.

Fui aos escaninhos da minha memória e encontrei uma máscara da abelha maia. Olhei um certo número de vezes para ela e, colocando-a ao lado de uma das máscaras que, por força das circunstâncias, há já muito tempo fazem parte da nossa rotina, imaginei então, o que, no agora, diriam uma à outra. Coloquei uma em cada mão e ouvi, num murmúrio muito débil, a máscara da abelha maia dizer à máscara cirúrgica:

_ Sabes, tenho saudades do tempo em que fazia as delícias das crianças e que, como ansiosamente era esperada! Agora, essas brincadeiras não existem e eu vivo para aqui nesta saudade que me consome! Ando há já muito tempo irritada! Hoje, sou apenas uma recordação e não gosto nada, acredita!

A máscara cirúrgica olhando-a e, depois de pensar um pouco, disse:

- Amiga, tu e eu somos máscaras e cada uma de nós está sendo útil a seu modo. Tu eras o encanto das crianças dando-lhes tanta alegria, tanta felicidade! HOJE, eu protejo-as deste vírus incómodo que, não sendo para aqui chamado, veio e instalou-se provocando muita ansiedade. Talvez nem te passe pelo teu entendimento de máscara, outrora feliz, a revolta que o meu uso forçado causa e como tudo me entristece! Mas, sou necessária e, tal como tu divertias, eu agora protejo, porque não sou um disfarce, nada escondo.

Imaginei a continuidade dos desabafos e tirei a lição que uma simples conversa imaginária pode dar a cada um de nós: -- tudo tem o seu tempo, o seu valor, que, se lhe for dada a utilidade necessária, torna a vida mais feliz. Acreditem neste modo de ver, nos acontecimentos da vida, a utilidade dos mesmos.

Um bom carnaval num abraço.

Graziela Camacho