A Guerra Mundo

Protestos na Rússia resultam em 1.700 detenções em 53 cidades diferentes

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FOTO EPA/ANATOLY MALTSEV

Cerca de 1.700 pessoas foram hoje detidas em 53 cidades russas, sendo que perto de mil detenções ocorreram em Moscovo, na sequência dos protestos contra a invasão da Ucrânia, segundo dados divulgados por uma organização não-governamental (ONG).

Os dados mais recentes da organização OVD-Info relatam que 1.702 pessoas foram detidas em 53 cidades diferentes, 940 destas em Moscovo.

Os cidadãos russos mobilizaram-se a condenar as ações mais agressivas por parte de Moscovo desde a invasão soviética do Afeganistão em 1979, noticia a agência Associated Press (AP).

Uma petição iniciada por Lev Ponomavyov, defensor dos direitos humanos,  recebeu mais de 150.000 assinaturas em poucas horas e no final do dia já registava 289.000.

Milhares de pessoas desafiaram uma proibição de manifestações anunciada pelo Governo, face a apelos divulgados nas redes sociais para protestos contra a decisão do Presidente russo, Vladimir Putin, de ordenar a invasão da Ucrânia.

O Ministério do Interior russo tinha advertido hoje que os protestos contra a guerra na Ucrânia seriam considerados ilegais e que a polícia "tomaria todas as medidas necessárias para assegurar a ordem pública".

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que o apoio popular à invasão da Ucrânia seria idêntico ao "elevado nível de apoio" dos russos ao reconhecimento da independência dos territórios ucranianos separatistas de Donetsk e Lugansk.

"Sabemos que uma sólida maioria da população apoiou a decisão do Presidente de reconhecer as duas repúblicas. Portanto, podemos assumir que o nível de apoio [para as operações na Ucrânia] não será mais baixo", disse Peskov, citado pela agência espanhola Europa Press.

Entre as pessoas que desafiaram as ordens governamentais em Moscovo, algumas têm familiares na Ucrânia, como a jovem Tatiana, 18 anos, que manifestou receio por uma tia a viver no país vizinho.

"Tenho medo por ela", disse a jovem, que pediu à AFP para não divulgar o seu apelido.

Anastasia Nestulia disse estar "em estado de choque" e que receia pelos familiares que vivem na Ucrânia.

"O que é que lhes posso dizer ao telefone? Conseguem aguentar? Não posso ficar no meu quarto, quero ver outras pessoas que são contra a guerra, que pensam como eu", disse.

Em São Petersburgo, entre os milhares de manifestantes, encontrava-se a estudante Daria Gazmanova, que disse estar chocada.

"Estou aqui porque não quero viver num país agressor", disse a estudante de 20 anos, citada pela AFP.

O regime de Putin endureceu a repressão contra os opositores nos últimos dois anos, e as figuras mais destacadas da oposição estão presas ou tiveram de fugir do país.

O principal adversário do Kremlin, Alexei Navalny, que se encontra preso, disse hoje que se opõe à guerra da Rússia na Ucrânia.

A Rússia lançou hoje de madrugada uma ofensiva militar em território da Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já provocou pelo menos meia centena de mortos, 10 dos quais civis, em território ucraniano, segundo Kiev.

O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa "desmilitarizar e desnazificar" o seu vizinho e que era a única maneira de o país se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário, dependendo dos seus "resultados" e "relevância".

O ataque foi de imediato condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), União Europeia (UE) e Conselho de Segurança da ONU.