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Brasileiros em Portugal esperam Lula lhes dê deputados para a emigração

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Foto EPA/ANTONIO COTRIM

O dirigente da Casa do Brasil em Lisboa Carlos Viana disse hoje que a comunidade espera que o novo Presidente do Brasil crie um círculo de deputados para a emigração, uma reivindicação dos brasileiros emigrados .

Carlos Viana, que foi membro ativo da última campanha junto da comunidade imigrante brasileira em Portugal para a eleição do candidato Luís Inácio Lula da Silva às eleições presidenciais do seu país, salientou que hoje "há quatro milhões de brasileiros pelo mundo que remetem alguns milhares de milhões de divisas para o seu país".

Por isso, a comunidade imigrante espera da Presidência de Lula da Silva mais diálogo e reconhecimento do que o que houve do presidente cessante, Jair Bolsonaro, o candidato da extrema-direita, que foi o opositor de Lula da Silva na segunda volta das presidenciais brasileiras, disputada a 30 de outubro deste ano.

Para tal, Carlos Viana espera uma resposta a uma reivindicação antiga: " termos deputados, como Portugal tem, da emigração", que representem os interesses de quem está fora.

Admitindo que este é um assunto ao qual o Parlamento brasileiro não é muito recetivo, o dirigente da Casa do Brasil disse, no entanto, que esta é uma reivindicação da qual a comunidade imigrante não irá abrir mão, tal como a exigência de "uma política mais estruturada para os emigrantes".

"Hoje os consulados são um desastre em termos de qualidade dos serviços prestados aos brasileiros no exterior, mas não é só isso",afirmou. "Há questões ligadas à educação e à saúde" que também exigem decisões.

Já quanto a impactos, a curto médio prazo, da eleição de Lula da Silva para Presidente do Brasil, no número de imigrantes em Portugal e nos fluxos de migração, o dirigente da Casa do Brasil não espera, para já, grandes alterações.

"Portugal é mais civilizado e é muito menos violento e isso é que atrai muito as pessoas. (...), a qualidade de vida é muito melhor e para quem tem mais dinheiro então aí é muito melhor". Por isso, "a gente vê também a emigração dos ricos. A classe média alta tem vindo, extremamente sensível à questão da segurança".

Apesar disso, espera que alguns imigrantes possam regressar quando a economia brasileira melhorar, o que poderá ocorrer a médio prazo. Já a segurança levará muito tempo a construir no Brasil.

"É um problema que só se resolve no longo prazo", afirmou, acrescentando que falta "muita educação e cultura".

Para Carlos Viana este terceiro mandato de Lula da Silva como Presidente do Brasil, 20 anos depois da primeira vez que foi Chefe de Estado do Brasil, vai ter vários problemas internos, para resolver. Desde logo, o país que vai governar "é um Brasil onde a direita cresceu muito" nos últimos anos.

O dirigente salientou que os governos de Lula da Silva sempre foram resultado de uma ampla coligação de forças políticas e não só do Partido dos Trabalhadores (PT) de que o novo presidente é originário e líder.

"É uma colisão que abarca a direita, só não abarca a extrema direita", frisou o dirigente da Casa do Brasil em Lisboa, lembrando que o vice-presidente é alguém que foi várias vezes candidato contra Lula e é de centro-direita.

Agora, "ao contrário de 2002, nós temos uma extrema direita mais forte e voltou com muita força o partido dos militares, que depois de deixarem o poder em 1985 foram assim para uma situação low profile", mas que apoiou o presidente cessante.

Perante isto, assegura que a atitude de Lula da Silva vai ser "abrir os ministérios e partilhar o poder com o centro direita e outras forças políticas para ter alguma sustentação no parlamento".

Mas isso vai trazer-lhe um outro problema, é que com um governo muito amplo "não vai ser fácil gerir egos, desejos e ganas" dos cargos" dos vários partidos, apontou.

Com todo este cenário, a "aposta fortíssima" do Presidente "vai apostar na política externa muito como medida de sucesso do seu governo", acrescentou.

De acordo com o dirigente da Casa do Brasil Lula da Silva tentará manter relações boas "com todo o mundo", nomeadamente no atual contexto de polarização: "Vai dar uma de promotor da paz".

Esta aposta na diplomacia "será uma forma de compensar as dores de cabeça que vai ter na política interna que ele vai dividir muito com o seu vice-presidente, que é um político muito hábil e com um lastro muito grande ao nível de política interna (...), além de conciliador", com a ajuda dos senadores do PT.

Quanto ao bolsonarismo, Carlos Viana disse que irá continuar, mas com novas lideranças menos desgastadas que a de Bolsonaro, e aptas a candidatarem-se daqui por quatro anos à presidência do Brasil.