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A educação em estado de emergência

Com o lockdown 165 países fecharam as escolas; 1500 milhões de crianças e jovens foram afetados; 80% da população estudantil do mundo inteiro ficaram sem aulas

Começamos agora a fazer o balanço sobre o impacto da covid-19 nos sistemas educativos e a transformação das práticas pedagógicas em função do estado de emergência entre os anos de 2020 e 2021. Esta foi uma altura em que se deu, como nunca, a partilha das melhores práticas pedagógicas e científicas. Foi, também, a mais rápida e eficaz reação que a classe docente alguma vez deu ao país, no caso português.

Por todo o mundo, a transição para as plataformas digitais foi difícil para os professores por razões de ordem diversa. Numa altura em que se pede o foco da atenção docente no estudante, as ferramentas disponíveis são predominantemente diretivas e centradas no professor. Os dados indicam diversas deficiências técnicas na implementação da educação à distância, com a sobrecarga dos portais de acesso às aulas on-line e constantes falhas na rede. Ocorreu, ainda, uma menor produtividade e era claro o stress da classe docente. A isto somou-se a dificuldade de medição e validação das aprendizagens.

Com o estado de emergência vieram ao de cima, em open-space, os fossos educacionais que se relacionam diretamente com as desigualdades estruturais, sociais, económicas e culturais dos países e das suas regiões. Percebemos, com a clareza, que o acesso à educação está longe de estar democratizado. Um estudo da HundrED.Org refere que 87% das pessoas consideram que a pandemia aumentou as desigualdades. 6% consideram que os sistemas educativos estavam preparados para a pandemia e 17% acreditavam que os seus líderes estavam a aprender com as respostas educativas de outros países.

Com o lockdown 165 países fecharam as escolas; 1500 milhões de crianças e jovens foram afetados; 80% da população estudantil do mundo inteiro ficaram sem aulas presenciais e 60.2 milhões de professores não estavam nas salas de aula tradicionais. Em termos de qualificações, sabemos agora que 47% dos diplomados podem trabalhar em casa, mas apenas 6% dos que trabalham sem qualificações podem fazê-lo. Num total de 14.7 milhões de trabalhadores da área da saúde, em toda a UE, 87% são mulheres, o que significa que estes profissionais não tinham com quem deixar os seus filhos. Ficou clara a ausência de uma política de assistência aos filhos dos profissionais de saúde e a outras profissões que auxiliaram na gestão da pandemia.

As consequências mais prementes da educação em estado de emergência foram: o aumento nas taxas de evasão escolar; a nutrição que ficou comprometida para centenas de crianças e jovens; os custos económicos elevados para quem tem o dever de vigilância dos menores e que levou a perda de salário.

Os dados indicam que ocorreu mais violência e exploração sociais. Mais isolamento e problemas mentais. Por todo o mundo, os casamentos prematuros aumentaram e mais crianças foram recrutadas em milícias e o trabalho infantil cresceu. Houve mais exploração sexual de meninas e jovens mulheres e subiram os números da gravidez na adolescência.

Estamos ainda em fase de análise de dados científicos das consequências educacionais e sociais da pandemia, mas, goste-se ou não, esta discussão é política porque se espera que ela, a política, se alie à investigação e se coloque ao serviço da igualdade e da inclusão.