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Desporto e género: oportunidades perdidas

A Copa do Mundo da FIFA no Qatar, que iniciou a 20 de Novembro e irá durar ate 18 de Dezembro, coincide com as celebrações do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres que se celebrou dia 25 de Novembro, e que é seguida pela iniciativa “16 dias de ativismo contra a violência baseada no género” que se estende ate dia 10 de Dezembro.

O mediatismo e interesse que desperta a Copa do Mundo, oferece a plataforma ideal e uma excelente oportunidade para se desenvolver campanhas sobre questões de igualdade de género, de paridade e de empoderamento das mulheres, especialmente no contexto do mundo do desporto. No entanto, essa oportunidade não parece ter sido evidente para os dirigentes nacionais e internacionais, nem mesmo para a própria FIFA que ao escolher o Qatar como palco, parece ter dado o seu aval para a omissão de questões relevantes de direitos humanos e de direitos das mulheres.

A FIFA e uma organização que desde a sua criação em 1904 nunca teve uma mulher presidente, e apenas agora tem, pela primeira vez, uma representante feminina no lugar de Secretária-geral. As diferenças salariais entre homens e mulheres é observada em todos os sectores, incluindo no desporto. Em 2019, a Copa Mundial de mulheres teve como premio 30 milhões de dólares, que representou 7.5% do premio destinado ao campeonato masculino.

O Presidente da República, após a sua viagem oficial ao Qatar para apoiar a equipa portuguesa, participou nas celebrações do dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, apelando a todos os portugueses para eliminar e combater “a violência contra as mulheres, e não compactuando com silêncios cúmplices ou cómodas omissões”. Concordo que mudanças sociais começam pelo nosso comportamento pessoal no seio da família, no trabalho e na sociedade, mas têm que vir acompanhadas de políticas públicas para modelar condutas sociais e mudar estereótipos baseados no género.

Preconceitos de longa data e modelos preconcebidos de género têm desencorajado as mulheres de perseguir uma carreira na investigação em Desporto, Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM). Dados do World Economic Forum revelam que para fechar o “gender gap” mundial demorara cerca de 136 anos.

O Presidente Francês, Emmanuel Macron, um dos rostos de promoção da igualdade do género, lançou o movimento #JamaisSansElles (numa tradução literal: nunca sem elas). Em Portugal esse movimento foi adotado no contexto do banco francês BNP Paribas, através da implementação das políticas internas definidas em França. Assim, os funcionários do banco estão impedidos de participar em debates ou em eventos onde não haja representantes femininas. Semelhante medida foi aprovada no passado mês de Novembro pelo Parlamento Europeu sob a égide: género nos conselhos de administração.

São de facto, medidas concretas de inclusão como esta que dão forma a palavras, pois essas, levam-as o vento.