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Politólogos antecipam mais momentos de tensão entre Governo e Presidente

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Politólogos antecipam mais momentos de tensão entre o Presidente da República e o Governo até ao final da legislatura devido a uma "maior vigilância" em contexto de maioria absoluta, mas descartam que Marcelo esteja a mudar de atitude.

Em declarações à agência Lusa, o politólogo António Costa Pinto rejeita que as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa este fim de semana -- em que avisou a ministra da Coesão de que, caso a taxa de execução dos fundos do PRR não for a que deseja, terá um dia "super infeliz" --, constituam uma mudança de atitude do Presidente perante o Governo.

No entender do professor do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa tem, desde o início da maioria absoluta do PS, mostrado uma "maior vigilância sobre a atividade governamental", rejeitando que as suas declarações constituam uma ameaça ao Governo.

"No nosso sistema político, a sua [margem de] ameaça é pequena, sobretudo em maioria absoluta. Não é com certeza a propósito da utilização conjuntural dos fundos estruturais que o regular funcionamento das instituições estará em causa", sustenta.

No mesmo sentido, o politólogo Adelino Maltez rejeita que se esteja a assistir a uma mudança de atitude da parte de Marcelo, atribuindo as suas declarações sobre o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) a um "excesso de criatividade" que não terá consequências.

"Se eu puser numa folha uma coluna A e outra B -- A considerando 'apoio' [ao Governo] e B considerando 'crítica' --, a coluna A está cheia, quer dizer, tem 80%", diz à Lusa.

A politóloga Susana Salgado considera contudo que, perante os casos polémicos que têm envolvido membros do Governo, "trata-se de uma postura de sobrevivência política o Presidente ter uma postura mais incisiva".

"Ele já teve um deslize grave há umas semanas relativamente aos abusos sexuais na Igreja, onde não ficou propriamente bem na fotografia. Agora acredito que tenha uma preocupação em ter declarações mais relevantes e, de certa forma, em mostrar alguma distância" do Governo, antevê a professora do ICS.

No mesmo sentido, Costa Pinto diz ser natural que, tanto da parte do executivo como de Marcelo Rebelo de Sousa, se desenvolvam "modelos discursivos de maior tensão" até ao fim da legislatura,

"Não será de espantar atitudes críticas perante política de casos em relação a este Governo. Não será de espantar que o Presidente da República, por exemplo, aproveite alguma mensagem perante alguns casos de conflitos de interesse por parte de elementos do Governo, que tenham também maior associação conjuntural a partidos da oposição, nomeadamente o PSD", antecipa, apesar de descartar que se possa começar a desenhar uma aproximação entre Marcelo e os sociais-democratas.

Em sentido contrário, Adelino Maltez não antecipa qualquer mudança de comportamento da parte do Presidente da República até ao final da legislatura, relembrando que Marcelo Rebelo de Sousa se apresentou a eleições como um garante de estabilidade e vai "cumprir o que ele prometeu ao povo que o reelegeu".

Na ótica do professor do ISCSP, Marcelo não irá aproximar-se do PSD nem afastar-se do Governo porque o seu perfil "está traçado e ele não vai a jogo mais nenhuma vez".

"Estamos agora com o caso daquele secretário de Estado [Adjunto do primeiro-ministro], Miguel Alves: o Presidente da República aí não vai abrir a boca. Isso seria uma questão mais dolorosa" para o Governo, refere, para exemplificar a falta de mudança de postura da parte do chefe de Estado.