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Obiang reeleito na Guiné Equatorial prolonga recorde de longevidade no poder

Foto ludovic MARIN/POOL/AFP
Foto ludovic MARIN/POOL/AFP

Com mais de 43 anos no poder, recorde mundial de longevidade para um chefe de Estado vivo, excluindo as monarquias, o Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, foi reeleito sem surpresa para um sexto mandato.

Depois de reeleito em 2016 com 93,7% dos votos, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo parecia estar, nos últimos anos, a preparar um sucessor, um dos seus filhos, o vice-presidente Teodoro Nguema Obiang Mangue, também conhecido por 'Teodorin', conhecido pelo seu estilo de vida luxuoso e condenado em França no caso dos "ganhos ilícitos".

Com 80 anos, o chefe de Estado equato-guineense, agora reeleito com 94,9% dos votos, tem vindo a limitar as suas aparições públicas nos últimos dois anos, enquanto 'Teodorin' tem vindo a destacar-se cada vez mais.

O todo-poderoso vice-presidente 'Teodorin', também ministro da Defesa, publica nas redes sociais imagens das suas viagens ou a conduzir carros de corrida raros e caros.

Em meados de dezembro de 2021, todos esperavam que o partido no poder o nomeasse para substituir o seu pai.

Mas os caciques do poder, bem como a guarda próxima de Teodoro Obiang, pensaram que era demasiado cedo e provocador impulsioná-lo oficialmente como sucessor, numa altura em que a queda nas receitas dos hidrocarbonetos desde 2014 e a pandemia de covid-19 estavam a tornar o país ainda mais dependente da ajuda e do financiamento externo.

O Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE) decidiu então, contra todas as probabilidades, não fazer nenhuma nomeação, apenas dois meses antes das eleições que o chefe de Estado tinha antecipado.

"Estou no poder há demasiado tempo, mas o povo ainda quer que eu seja o seu presidente. Esta é a última vez que concorro", disse Obiang ao semanário Jeune Afrique pouco antes da sua reeleição em 2016.

Quando questionado sobre a sucessão a ser preparada para 'Teodorin', respondeu: "A Guiné Equatorial não é uma monarquia (...) mas não posso fazer nada se ele tiver talento".

O muito austero Teodoro Obiang - o oposto do seu filho - tem a reputação de levar uma vida ascética, de ter um estilo de vida saudável e de praticar desporto diariamente.

A 3 de agosto de 1979, derrubou o seu tio, o ditador sanguinário Francisco Macias Nguema, pela força das armas, com a ajuda dos seus oficiais, e que foi morto a tiro dois meses mais tarde.

O Presidente sempre manteve o fantasma de um golpe de Estado. A sua guarda é constituída por soldados alegadamente leais do seu clã, mas os seus guarda-costas mais próximos são israelitas e a segurança do palácio é parcialmente confiada a zimbabueanos e ugandeses.

Desde a sua subida ao poder, afirma ter frustrado pelo menos dez tentativas de golpe ou homicídios, e Malabo respondeu a cada um deles com um aumento da repressão, acusando a oposição no exílio e as "potências estrangeiras", sem especificar.

Teodoro Obiang, inicialmente à frente de um país com poucos recursos e tratado com complacência por outros homólogos africanos, beneficiou da descoberta de petróleo nas águas territoriais do país no início dos anos 1990, mas depois o país foi enriquecendo.

A Guiné Equatorial é regularmente citada pelas organizações não-governamentais como um dos países com os mais altos níveis de corrupção.

'Teodorin' Obiang foi condenado a uma pena de prisão suspensa de três anos e multado em julho em França em 30 milhões de euros num caso de "ganhos ilícitos" e os seus bens foram congelados.

Foi banido do Reino Unido desde 2021 por "corrupção" e "desvio de fundos públicos" e teve de abdicar de 26 milhões de dólares em bens nos Estados Unidos para acabar com as acusações de corrupção, no mesmo ano.

Apenas uma oposição de fachada é tolerada no país. Até 1991, o PDGE foi o único partido, antes de o Governo tolerar pequenos movimentos de satélite ou "oposição", mas que vão sendo proibidos quando são considerados demasiado ameaçadores.

Neste pequeno país, frequentemente referido por detratores de Obiang como a "Coreia do Norte de África", os opositores são presos ou desaparecem, e muitos deles encontraram refúgio no estrangeiro, nomeadamente em Espanha, a antiga potência colonial.

A Guiné Equatorial é o país africano com o maior Produto Interno Bruto (PIB) 'per capita', e o terceiro maior exportador de petróleo do continente, mas a maior parte da sua riqueza continua concentrada nas mãos de poucas famílias, entre as quais, as da família Obiang Nguema.

A larga maioria dos equato-guineenses vive em condições de pobreza extrema, apesar de o país registar um PIB per capita de 11.264 dólares em 2022, que o coloca em 70.º lugar no mundo, à frente de países como o México, Turquia e África do Sul.