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ONU pede mais educação reprodutiva após planeta atingir os oito mil milhões de pessoas

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A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu hoje um maior acesso a educação e saúde reprodutivas para meninas e mulheres, após um "crescimento sem precedentes" que levou a população mundial a atingir os oito mil milhões de pessoas.

Apesar de considerar que foi atingido um "momento histórico", a ONU indicou que este é também um momento para o mundo refletir e perguntar-se como é que irá fornecer "boas condições de vida" a esses oito mil milhões de pessoas.

"O que torna este momento histórico não é o número atingido, mas a diversidade demográfica sem precedentes que vemos agora entre países. (...) Este marco mostra também a diferença de oportunidades entre regiões. Temos de apoiar meninas e mulheres, para que tenham acesso à saúde reprodutiva. Vamos tentar que todos tenham as mesmas oportunidades", apelou Ib Petersen, vice-diretor de gestão do Fundo de População da ONU, numa conferência de imprensa em Nova Iorque.

Para John Wilmoth, diretor da Divisão de População do Departamento de Assuntos Económicos e Sociais da ONU, este crescimento populacional rápido e sem precedentes é motivo de preocupação e os Governos têm agora um papel "crítico" em tentar "ajudar as pessoas a ter meios de controlar a sua própria fertilidade".

"Esta seria uma solução parcial para ajudar as pessoas a decidir o tamanho das suas famílias. Investir nessas áreas é crítico. Muito do crescimento populacional diminuiria se os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) fossem atingidos", defendeu.

A população mundial atingiu hoje a fasquia dos oito mil milhões de pessoas, segundo projeções da ONU, que fala de um "marco no desenvolvimento humano", mas que gera preocupações.

De acordo com as Nações Unidas, este crescimento de proporções muito significativas deve-se ao aumento gradual da esperança de vida, às melhorias na saúde pública e avanços na medicina, mas também a fatores como a nutrição, a higiene pessoal, e a elevada e persistente fertilidade em alguns países.

Contudo, a ONU nota que, por norma, os países com mais altos níveis de fertilidade são também os com mais baixo rendimento per capita, a maioria na África subsariana, o que significa que o crescimento global da população tem vindo a concentrar-se nos países mais pobres do mundo, o que pode impedir a realização dos ODS.

"Forneçam escolhas às mulheres! Deem-lhes meios para elas decidirem quantos filhos querem ter, forneçam educação, forneçam meios. Os contracetivos estão disponíveis, mas não na escala que deveriam. Quase metade de todos os nascimentos no mundo anualmente proveem de gravidezes indesejadas e isso é um sinal de que muitas mulheres não têm acesso a decidir se querem ter filhos ou não", explicou Ib Petersen.

"Tentamos garantir que são distribuídos contracetivos em campos de refugiados em todo o mundo, por exemplo. Estamos realmente a tentar alertar os governantes para este problema", acrescentou.

As Nações Unidas referem ainda que o crescimento populacional aumenta os impactos no ambiente e que o aumento dos rendimentos per capita é o "principal motor de padrões insustentáveis de produção e consumo".

"O aumento da população faz aumentar problemas ambientais como a desflorestação e a destruição da biodiversidade. (...) Fazer cumprir os ODS irá fazer diminuir este rápido crescimento e os países ricos podem ajudar os países menos desenvolvidos nesse sentido. (...) Precisamos de redobrar os nossos esforços para atingir os ODS", defendeu Maria-Francesca Spatolisano, secretária-geral adjunta para a Coordenação de Políticas e Assuntos Interinstitucionais da ONU.

Segundo as Nações Unidas, os maiores contribuintes para o crescimento a cada mil milhões desde 2010 são a Ásia e África, o que voltará a acontecer com os próximos mil milhões, em 2037, com a Europa a contribuir negativamente.

Na conferência de imprensa de hoje, na sede da ONU, em Nova Iorque, John Wilmoth chamou a atenção para o facto de que na Europa, em particular, "o crescimento da população tem vindo a ser liderado pela imigração nos anos recentes".

"Nas próximas décadas, em alguns países, a imigração será a única fonte de crescimento populacional, caso contrário seria de declínio no balanço entre nascimentos e mortes", detalhou.

Para o aumento populacional hoje assinalado, a Índia foi o maior contribuinte, com 177 milhões de pessoas, ultrapassando a China, com 73 milhões. A contribuição da China, que ainda é o país mais populoso (quase alcançado pela Índia) deve ser negativa nos próximos mil milhões.

O Departamento de Assuntos Económicos e Sociais da ONU nota que chegar agora a oito mil milhões de seres humanos é um "marco notável", já que a população mundial foi inferior a mil milhões durante milhares de anos e até 1800, e que levou mais de 100 anos a crescer de um para dois mil milhões.

Com um aumento exponencial no último século, e apesar de um abrandamento gradual mais recente, as previsões indicam que os nove mil milhões de 2037 passem a 10 mil milhões em 2058.