Crónicas

Imposto

1. Disco: Bruce Springteen é a prova de que “velhos são os trapos”. “Only the Strong Survive” é um disco fantástico. Uma revisitação a músicas de outros grandes nomes com arranjos não muito na linha que nos habituou. Para ouvir, ouvir, ouvir.

2. Livro: “Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos”, de Olga Tokarczuk, ajuda-nos a olhar para dentro, a analisar o que somos, para onde queremos ir. É um livro sobre responsabilidade. A que temos para connosco e para com os outros. Um thriller de humor sombrio que nos obriga a paragens para pensar.

3. Nascemos, pagamos impostos e morremos. Estas três coisas são inevitáveis. Não há como determinar quando ou como podem ocorrer. A tributação acontece há milhares de anos, sendo, assim, seguro presumir que continuará a existir enquanto o homem for homem. Os impostos existem às toneladas por esse mundo fora.

Imposto, como o próprio nome indica, é obrigatório. Implica coerção. Em Portugal temos impostos, e taxas, para tudo e mais alguma coisa. Herdamos, toma lá imposto. Vou às compras, lá vai disto. Recebo o ordenado, tiram-me parte dele. Se tenho uma empresa e tenho lucro, uma parte não é minha.

Ele é o IRC; o IRS; a Derrama (Municipal e do Estado); o IVA; o imposto de selo; o dos sacos de plástico; o IMI (o mais estúpido dos impostos); o IMT; o sobre o álcool, as bebidas alcoólicas e as bebidas adicionadas de açúcar ou outros edulcorantes; o ISP; o IT; o ISC; o IUT; o do audiovisual; o dos resíduos; as centenas de taxas e taxinhas municipais.

Apontem aí, porque está na altura de se recuperarem impostos de outros tempos: ajudadeira; anúduva; banalidades; corveia; formariage; fossadeira; miunças; direituras; foragens; talha; dízimo; tostão de Pedro; capitação; censo; albermagem.

Ou poderiam procurar taxas e impostos divertidos. Pagávamos e ainda tínhamos direito a um sorriso. Taxar janelas e tapa-sóis. A flatulência das vacas, tanto por volume como quantidade. Uma taxa de utilização por cada vez que vamos ao Google efectuar uma pesquisa. Um respirómetro na testa a contar as expirações de dióxido de carbono.

E fico por aqui. Tenho a certeza que muitas cabecinhas já começaram a fazer contas.

4. Por favor, não concluir com o que escrevi acima que sou contra os impostos. Sou contra o modo como são aplicados, contra um estado gordo que nos come diariamente, contra elevada carga que pagamos, comparativamente com outros mais ricos do que nós. Os impostos são uma necessidade, mas quanto menos e quanto melhor aplicados, melhor.

5. No passado dia 8 assisti aos trabalhos na ALRAM. Pretendo fazê-lo em todos os debates mensais, bem como no debate do Orçamento. Tomei notas, ouvi e conclui. Contava escrever hoje sobre isso. O texto estava feito. Estive, até à hora de enviar o escrito para o secretariado do DN, com um peso sobre o peito. Será que vale a pena? Não, não vale. Delete.

6. Estou farto desta forma de fazer política por parte daqueles que se arrogam à intenção de governar as autarquias da Madeira a partir das eleições de Setembro.

Estou farto que se esvaziem conteúdos substituindo-os pelo “fait divers” da espuma dos dias.

Estou farto de promessas, mais balofas do que eu, de coisas que não são da competência autárquica.

Estou farto do cheiro a alcatrão e do betão por todo o lado de quem só se “lembra” de investir no último ano de mandato.

Estou farto do miserabilismo do cabaz que cria dependências, ao invés do investimento em criar atractividade que crie emprego e para todos.

Estou farto da rudeza e da má educação de quem devia dar exemplos.

Estou farto de quem substitui o debate político por uma verdadeira guerra.

Estou farto que não haja o respeito que deveria haver entre adversários, pois, estes tornaram-se em inimigos.

Estou farto da menoridade dos players políticos que temos.

Esta gente só vem dar razão aos que da política têm a ideia de que serve para que uns se sirvam, prejudicando a maioria.

É isto que querem passar para o eleitorado? A mesquinhez, a insinuação torpe, a vitimização, a acusação, a presunção, o insulto, a mentira? A obra em cima do joelho e a promessa repetida e fácil que nunca será cumprida?

É isto que querem?

É disto que estão à espera?

Temos que ser exigentes, cedendo aqui para ganhar ali, reclamando políticas que a todos beneficiem.

7. No PZP vem aí o senhor que se segue. Será que terá a capacidade da desculpa? De liderar um partido que sempre esteve, e está, no lado errado da humanidade?

Será que sabe o que foi o Holodomor; sabe da existência do Gulag; da Lubyanka; da transferência massiva de populações de um lado para outro; do assassinato dos kulaks; Yezhovshchina; a Revolta de Kronstadt; os grandes expurgos de Stalin; os Julgamentos de Moscovo; o massacre de Katyn; o Terror; os Meninos de Lenin; a KGB e a Stassi; o extermínio dos Cossacos; a Primavera de Praga e a Revolução Húngara; a Grande Fome Chinesa; a invasão soviética do Afeganistão; Tiananmen; o que os khmers vermelhos fizeram; Bucha e Irpim; etc., etc., etc.

8. Há coisas que me mexem mesmo com os nervos… a sabujice é uma delas. Não suporto lambebotismo, nem cheiracuzismo. Gente que se não está sentada à volta da gamela, diz mal de tudo e todos e, depois de sentados, mesmo que dela não comam, soltam as loas e vêem Cristo na terra.

Os melhores amigos que tenho são pessoas que me dizem na cara o que pensam. Não se põem com merdas. E esperam de mim exactamente a mesma coisa. É nas diferenças que estas amizades crescem. Na admiração mútua.

Os meus melhores colaboradores fazem o mesmo, porque para isso são motivados. Por isso são bons e andam por aí a trabalhar noutras coisas mais preenchedoras e que lhes dão o que precisam para viver, com um alcance bem maior do que aquilo que a política lhes pode dar. Tenho um grande orgulho em todos eles.

Por motivos óbvios, os medíocres gostam de ter a seus pés quem lhes lamba a calçada da vida…

9. Como cristão, faço-me, com alguma frequência, as seguintes perguntas:

Aplaudiriam alguém que gritasse hipocrisia sempre e quando com ela deparasse?

Permitiriam que os sistemas de autoridade fossem subvertidos, quando são projectados para manter o poder e o controle?

Conseguiriam gostar de alguém, que passasse a maior parte do seu tempo com aqueles que a sociedade despreza?

Tolerariam quem se recusasse a seguir a linha oficial das coisas?

Aceitariam quem demonstre pouca consideração pelas tradições, quem exige mudanças?

Experimentem fazer o mesmo e a partir daí avaliem, se se consideram cristãos, o vosso cristianismo.

10. Em 1861, na tomada de posse, Lincoln disse: “quando o povo se cansar do direito constitucional de reformar o governo, deve exercer o direito revolucionário de desmembrar e derrubar esse governo.” Mas os propósitos de Lincoln não eram violentos, o que queria dizer era que o podemos exercer a cada quatro anos, esse supremo acto revolucionário que são as eleições.

O problema é que a esmagadora maioria de nós não percebe isso!