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África com quatro dos cinco países com níveis alarmantes de fome

Foto Amors photos/Shutterstock.com
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Quatro dos cinco países com níveis alarmantes de fome estão situados no continente africano, nomeadamente o Chade, República Centro-Africana, República Democrática do Congo e Madagáscar, segundo o Índice Global da Fome (IGF), hoje divulgado.

O documento, elaborado anualmente pelas organizações não-governamentais (ONG) Welthungerhilfe e Concern Worldwide para analisar o estado da fome no mundo, revela que o Iémen (Médio Oriente) também obtém este nível alarmante de fome.

De acordo com o IGF de 2022, a que a agência Lusa teve acesso, apresentam níveis de fome previsivelmente alarmantes o Burundi, a Somália, o Sudão do Sul, os três situados no continente africano, e a Síria.

O relatório, intitulado "Transformação dos sistemas alimentares e governação local", indica que a África subsaariana e o sul da Ásia são as regiões com os níveis mais elevados de fome e as mais vulneráveis a crises futuras. Contudo, nestas regiões os avanços na luta contra a fome encontram-se estagnados.

Em termos gerais, os autores referem que "o progresso global contra a fome estagnou em larga medida nos últimos anos".

A pontuação do IGF para o mundo em 2022 é considerada moderada - 18,2, o que "revela apenas um ligeiro declínio em relação à pontuação de 19,1 em 2014".

"A prevalência da subalimentação mostra que a percentagem de pessoas que não têm acesso regular a calorias suficientes está a aumentar", com cerca de 828 milhões de pessoas subalimentadas em 2021, o que representa uma inversão de mais de uma década de progresso no combate à fome", lê-se no documento.

O IGF identificou 49 países com um nível de fome baixo, moderado em 36 países, grave em 35 países, alarmante em nove países. A escala da fome não aponta nenhum estado com um nível extremamente alarmante.

Os autores advertem: "Sem uma mudança significativa, não se prevê que o mundo no seu conjunto, nem cerca de 46 países, possam atingir mesmo um nível baixo de fome até 2030".

Um baixo nível de fome até 2030 é o objetivo global de erradicação da fome, um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda de 2030 estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).

A África subsaariana é a segunda região do mundo com a segunda maior pontuação de IGF, atrás da Ásia Meridional. Nesta região do continente africano, a prevalência da subnutrição e a taxa de mortalidade infantil são mais elevados do que em qualquer outra região do mundo, com os conflitos que se registam a serem determinantes para a insegurança alimentar em muitos dos seus países, como o Burkina Faso, Camarões, República Centro-Africana (RCA), Chade, República Democrática do Congo (RDCongo), Etiópia, Mali, Níger, Nigéria, Ruanda, Somália, Sudão do Sul e Uganda.

"A região é também singularmente vulnerável à variabilidade e ao impacto das alterações climáticas, dada a sua elevada taxa de pobreza e dependência de atividades dependentes dos recursos naturais, como a agricultura, a pesca e a pecuária", refere-se.

As fortes chuvas que levam a inundações, o aumento da frequência de secas e a desertificação podem reduzir ainda mais a produção alimentar e aumentar a insegurança alimentar na região.

Na África Oriental, a Etiópia, o Quénia e a Somália estão a sofrer umas das secas mais graves dos últimos 40 anos, que ameaça a sobrevivência de milhões de pessoas.

Segundo o relatório, o Iémen, com 45,1 (alarmante) no IGF, tem a pontuação mais alta de todos os países. A segunda pontuação mais alta (44) foi atribuída à RCA (alarmante).

Na República Centro-Africana, 52,2% da população está subnutrida - a taxa mais alta identificada no relatório deste ano.

Os autores concluíram que a situação mundial da fome é "sombria e lúgubre".

"As crises sobrepostas que o mundo enfrenta estão a expor as fraquezas nos sistemas alimentares, desde o global até ao local, e expondo a vulnerabilidade das populações de todo o mundo à fome", apontam.

Segundo o documento, "a ameaça de fome paira mais uma vez no Corno de África e os fundos humanitários continuam a ser insuficientes para chegar a todos os necessitados".