Artigos

Valorização dos produtos Agrícolas

A agricultura tem que ser pensada já, para não acabar num futuro próximo, pois a mão de obra existente, está envelhecida

Recentemente lancei um livro dedicado à agricultura madeirense, que se chama, precisamente “A AGRICULTURA MADEIRENSE E EU”, onde falo na valorização dos produtos agrícolas produzidos na Madeira onde se pratica uma agricultura de montanha, numa orografia muito acentuada, em que muitos terrenos têm inclinações superiores a 25% e de reduzidas dimensões, que não permitem a mecanização, ou seja, todo o trabalho aí efetuado é feito manualmente.

Além de ser muito mais demorado, sai muito mais caro: Cavar à mão fica pelo menos dez vezes mais caro do que com uma máquina. A vindima mecânica, nos vinhedos, uma hora de máquina corresponde a cerca de cento e cinquenta homens, feito manualmente.

As grandes áreas de banana nos países mais tropicais são atravessados por uma espécie de vai-vem, reduzindo em muito tempo o transporte dentro do bananal. Os canaviais de cana de Açúcar, também em grandes áreas é colhido de uma maneira muito mais rápida. Pegam fogo, controlado, nas folhas e depois o corte da cana, recolha e transporte é feito com o trator.

As grandes plantações de semilhas são feitas com a ajuda do trator. Cavam mecanicamente o terreno, fertilizam mecanicamente, plantam mecanicamente, tratam mecanicamente, colhem mecanicamente e o seu transporte é feito, também mecanicamente, o que pode reduzir a mão de obra a menos de dez por cento em relação à que é necessária aqui na Madeira. Por tudo isso vendem a menos de dez cêntimos ao kg e ganham dinheiro, o que permite lavar a semilha, descascar, cortar em palitos, também mecanicamente e exportar congelada para muitos países do mundo. Mas há uma coisa que essa semilha não tem: O mesmo paladar que a nossa, em especial a do concelho do Porto Moniz e em particular a do Chão da Ribeira do Seixal.

A mão de obra cada vez escasseia mais na agricultura, pois muitos agricultores utilizam a chamada mão de obra alheia pouco mais que um dia de trabalho por semana. A maior parte dos trabalhadores pretendem um trabalho permanente e não ficar à espera de trabalho incerto. Para isso é necessário criar propriedades agrícolas que justifiquem pelo menos um posto de trabalho por agricultor, mas nos últimos 45 anos nada se fez para isso e suspeitamos que a agricultura tem tendência para acabar e dentro de alguns anos só aqueles que tenham essa dimensão conseguirão sobreviver.

A agricultura tem que ser pensada já, para não acabar num futuro próximo, pois a mão de obra existente, está envelhecida, mas a verdade é que os fracos governantes da área agrícola nada fizeram para contrariar esta tendência, o que não é para admirar porque em oito Secretários da Agricultura que tivemos nestes 45 anos pós Abril, sete foram de áreas estranhas à agricultura. Só um tinha formação Agrária, mas infelizmente devido a morte muito temporã, pouco pode fazer. É de estranhar esta situação o que ignifica que os Técnicos Agrários do PSD nõ são pessoas de andarem a lamber botas.

Há que resolver esta questão e para isso temos que começar com uma valorização dos produtos agrícolas de modo a que lhe permita pagar salários dignos a quem trabalha a terra. Sugerimos que de imediato façam um aumento de sete cêntimos em cada kg de Uvas, banana e cana de Açúcar e que a semilha passe a ter um preço mínimo ao agricultor da ordem de um euro por cada Kg. Vejamos o caso da cana de açúcar, na sua maioria usada para o fabrico de aguardente que por sua vez é usada na poncha. Segundo estou informado uma aumento de um cêntimo na cana reflete-se num aumento de sete cêntimos, ou seja, neste caso e para já de 35 cêntimos em cada litro de aguardente, o que corresponderia a um aumento de cerca de 1,5 cêntimos em cada poncha? Alguém deixaria de beber poncha por causa deste aumento?

A banana deveria ter uma diferença de preço entre o Verão e o Inverno. No Verão produz-se três vezes mais banana do que no Inverno o que dificulta a comercialização. O preço deveria entusiasmar os produtores a produzirem mais no Inverno, praticando a seleção das canhotas de modo a que esse aumento de produção invernal, acontecesse e baixasse a quantidade no Verão. Assim o produtor de bananas deveria ter pelo menos dez cêntimos de diferença, para cima, entre o período que vai de Novembro a Maio tudo isto resultaria num aumento de sete cêntimos no período de Junho a Outubro e de dezassete de Novembro a Junho.

Em relação às uvas, principalmente para o Vinho Madeira, o aumento de sete cêntimos, corresponderia a um aumento de cerca de 5,25 cêntimos em cada garrafa, o que certamente não iria pôr em risco a sua comercialização.

Se isto não for feito, daqui a pouco anos os produtores de aguardente não terão cana, os produtores de vinho Madeira não terão uvas, a Gesba não terá banana para “exportar” e ao madeirense só lhe restará a semilha congelada, importada, para comer.

Aos Governantes, se tiverem um cérebro, por favor utilizem-no e deixem-se de politiquices partidárias que a nada conduzem. Os madeirenses, independentemente da sua ideologia politica, não são uns mais madeirenses que outros.