País

Centena e meia de pessoas marcham pelo Clima e contra as desigualdades no Porto

None

A convocatória falava na "junção de lutas" contra as desigualdades, mas foi mesmo a questão ambiental a que mais se fez ouvir na marcha de ontem no Porto, marcada pelo movimento da Greve Climática Estudantil.

"Ó senhor ministro, explica por favor, porque é no inverno ainda faz calor", foi um dos cânticos que se ouviram ontem na marcha entre a Praça da República e a Avenida dos Aliados, que se fez passando pela Rua Gonçalo Cristóvão e descendo a movimentada Rua de Santa Catarina.

Em declarações à agência Lusa, João Silveira, um dos organizadores da iniciativa, adiantou que o movimento ia "reivindicar por várias coisas, não só por um futuro para todos nós, mas um futuro justo, em que queremos igualdade em todas as áreas".

As bandeiras LGBTQI+ marcaram presença, mas as palavras de ordem foram dedicadas ao clima.

Érica Ribeiro, de 18 anos, saiu ontem à rua porque a sua geração "vai ser a que vai sofrer as maiores consequências" e sentiu a necessidade de "lutar por aquilo que a geração dos nossos pais está a falhar em fazer".

Ainda que com o foco no ambiente, a jovem não esqueceu as outras causas: "se isto piorar, a pobreza será muito pior, e os pobres são quem sofre mais, e quem sofre de racismo".

"Não podemos esperar sentados. Em vez de estar a passear, pensei 'tenho de fazer alguma cena, mesmo que seja pequena', e decidi vir à manifestação".

Como ela, pensaram outras cerca de 150 pessoas, segundo a estimativa apontada pela PSP à Lusa, incluindo os cabeças de lista à Câmara do Porto do Bloco de Esquerda, do PAN e do Livre.

Para o organizador João Silveira, de 18 anos, "é interessante ver os representantes" partidários naquela iniciativa, ainda que tenha frisado que aquele é "um movimento apartidário".

"Não apoiamos nenhum, mas é importante que tenham noção de que os jovens e a população em geral no Porto querem saber, e é importante que mudem as suas políticas".

E as políticas foram, de facto, um alvo, como se ouviu quando a multidão ecoou que "o planeta está a aquecer, há medidas a tomar e o governo anda a brincar".

Renato Oliveira, de 15 anos, foi perentório em atirar: "o Governo não está a fazer nada, o que eles querem é dinheiro. O que nós queremos é o planeta bom".

O jovem, que não é estreante naquelas andanças, frisou que "é importante lutar sempre pelo bem e não desistir, levantar a cabeça sempre".

"Dizem que o povo não tem poder, mas todos juntos somos mais fortes".

Já Inês Silva, de 17 anos, saiu à rua pela primeira vez, embora já tivesse desperta para a questão: "sempre estive interessada em causas climáticas, mas não conseguimos fazer nada sentados no nosso próprio sofá. Tudo bem que partilhar 'stories' [publicações instantâneas nas redes sociais] e chamar a atenção dos nossos seguidores é importante, mas sinto que precisava de fazer mais".

"Sempre quis vir a uma greve climática, porque sinto que estar aqui rodeada de pessoas que acreditam no mesmo que eu pode fazer a diferença", continuou.

E um dos grupos que parecia mais empenhado em fazer a diferença era o da Escola de Segunda Oportunidade de Matosinhos, a que pertence também Renato Oliveira.

Vestidos a rigor, com cartazes e bidons a servir de bombos, os alunos daquela escola não passaram despercebidos quando chegaram à Praça da República, já depois da hora marcada, mas ainda muito a tempo de se juntarem à manifestação naquele local, antes de seguir viagem.

Diogo Carneiro, de 18 anos, juntou-se porque acredita que é preciso "mudar o nosso planeta".

Naquela que foi a sua primeira greve, não se acanhou em atirar farpas ao poder político, dizendo que espera "que o Governo pense um bocado e faça mudar isto".

Os professores responsáveis pela mobilização daqueles alunos, Miguel Silva e Daniela Laranjeira, explicaram que a participação em manifestações "faz parte do plano na escola de cativar os alunos para despertar consciências para estes problemas, que já são tão reais".

À Lusa, Daniela Laranjeira explicou que, antes de ali chegarem, estiveram a preparar uma "coreografia, todos os jovens assistiram a alguns documentários para abrir a consciência e todos eles participaram nessa iniciativa".

"Estamos aqui com essa vontade, de eles zelarem pelo planeta e pelo que é necessário fazer, e urgente, agora", prosseguiu.

Miguel Silva adiantou que aquela "é também uma maneira de eles aprenderem -- é ir além das salas de aula e despertar consciências".

"Fala-se muito hoje na aprendizagem para a cidadania, mas acreditamos mais na aprendizagem na cidadania, fazendo cidadania onde tem de ser feita, na rua, juntando-nos a estes movimentos", completou a professora.

E assim foi para a mais de centena e meia de pessoas que ontem pediu ao trânsito do Porto que os deixasse passar -- "Sou ativista e o mundo é para mudar", argumentaram.

A data marcada pelo movimento internacional foi assinalada desta forma no Porto, mas foram também agendados protestos para Albufeira, Aveiro, Braga, Caldas da Rainha, Coimbra, Faro, Funchal, Guimarães, Lisboa, Mafra, Santarém, Sines e Viseu.