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Dois homens, dois percursos

É esta a riqueza do ser humano que, na sua múltipla diversidade, é capaz de influenciar o curso da História

No passado dia 24 de Julho, como é do conhecimento geral, faleceu o Professor Virgílio Pereira. Tratou-se duma pessoa que marcou uma época na história da Madeira, desde o período pós 25 de Abril, pelos cargos que desempenhou e pela pessoa que foi. De relevar a sua eleição para a Câmara Municipal do Funchal, na qualidade de presidente. Foi ainda deputado à Assembleia da República pelo círculo da Madeira e, mais tarde, eurodeputado.

Não me lembro em que circunstâncias nos conhecemos. Isso pouco importa. Mas o que me marcou profundamente, foi o facto de, independentemente, das simpatias políticas de cada um, ele era um Homem simples, acessível e disponível para dois dedos de conversa. Não lhe conheci inimigos de espécie nenhuma. Tinha adversários que ele respeitava e o respeitavam. E nem por isso perdeu a sua verticalidade. Ao ponto de renunciar ao cargo de presidente da Câmara Municipal quando a sua coerência achou que o devia ter feito. Mas, seguiu o seu percurso, continuou a ser, a acreditar e a militar no seu partido e a respeitar as opiniões dos outros.

No passado dia 25 de Julho, morreu o coronel Otelo Saraiva de Carvalho, o estratega do 25 de Abril. Os portugueses devem, também a ele entre outros, devem a restituição da liberdade e outros direitos que o Estado Novo restringiu aos portugueses durante mais de 4 décadas. Os seus méritos de estratega foram-lhe reconhecidos pelos camaradas de armas, os capitães de Abril, que o escolheram para essa missão e cujo resultado militar é incontestável. Sem demérito para qualquer um dos outros envolvidos, onde cada um desempenhou o seu papel.

Homem responsável por parte do percurso que o país tomou na fase conturbada do pós 25 de Abril. Homem controverso pelo percurso que ele próprio traçou para si ao tomar as opções que tomou. No meu ponto de vista, algumas extremadas e que a História há-de desvendar. Mesmo assim, continua a merecer o meu respeito pelo contributo positivo que deixou à sociedade portuguesa que integro.

Enfim, dois homens, dois percursos. É esta a riqueza do ser humano que, na sua múltipla diversidade, é capaz de influenciar o curso da História, afectando o homem no seu bem-estar, felicidade e riqueza de toda a ordem. Embora em locais e tempos diferentes, para o percurso do primeiro contribuiu significativamente o sucesso da estratégia do golpe militar que o segundo delineou.

A cada um destes dois Homens que marcaram o tempo, diferentemente, à sua maneira, presto a minha homenagem e manifesto o meu respeito pela sua memória.