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Bangladesh dá início à vacinação de milhares de refugiados 'rohingyas'

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O Bangladesh começou hoje a vacinar contra a doença covid-19 a comunidade de milhares de refugiados da minoria muçulmana 'rohingya' que actualmente vive em campos de acolhimento no sudeste do país, divulgaram hoje as autoridades locais.

A campanha de vacinação, que irá prolongar-se durante três dias, surge numa altura em que o número de infecções pelo novo coronavírus registadas junto desta comunidade, mas também a nível nacional, tem vindo a aumentar.

A acção vai abranger refugiados 'rohingyas' com mais de 55 anos de idade, cerca de 48 mil pessoas, que serão inoculados com a vacina chinesa Sinopharma, indicaram as mesmas fontes.

No âmbito desta operação, centenas de profissionais de saúde estão destacados nos campos de acolhimento de refugiados situados em Cox's Bazar, distrito no sudeste do Bangladesh que já é reconhecido como o maior campo de refugiados do mundo, referiu, em declarações à agência France-Presse (AFP), o responsável local pelos serviços sanitários, Mahbubur Rahman.

De acordo com as autoridades sanitárias locais, 2.600 casos da doença covid-19 e 29 óbitos foram contabilizados, até à data, nos campos de refugiados em Cox's Bazar, que acolhem cerca de 850 mil pessoas, mas muitos especialistas acreditam que o número real de infecções e de mortes é provavelmente muito maior.

As autoridades locais relataram ainda que têm realizado uma "ampla campanha de sensibilização sobre a vacinação" nos campos, nomeadamente através de voluntários que estão a contactar directamente com os refugiados para explicar a importância e os benefícios da vacina.

Outra campanha de vacinação contra a covid-19 também deve começar esta semana junto dos milhares de refugiados 'rohingyas', cerca de 18 mil pessoas, que foram transferidos, desde Dezembro de 2020, para a ilha de Bhashan Char, igualmente no Bangladesh, segundo avançou à AFP o vice-comissário para os refugiados, Shams ud Douza.

O Bangladesh, que conta com uma população de cerca de 167 milhões de habitantes, tem sido atingido nos últimos meses por um aumento significativo de casos de covid-19 e uma grande parte do país, incluindo os campos dos refugiados 'rohingyas', está a cumprir medidas de confinamento.

O novo coronavírus já provocou no país cerca de 23 mil mortes e infectou quase 1,4 milhão de pessoas, a maioria nos últimos meses.

Cerca de 98% das novas infecções estão associadas à variante Delta do coronavírus SARS-CoV-2, identificada como mais transmissível e mais resistente.

Milhares de 'rohingyas' procuraram refúgio no Bangladesh, sobretudo na zona de Cox's Bazar, desde meados de Agosto de 2017, quando foi lançada, no Estado de Rakhine (em Myanmar, a antiga Birmânia), uma operação militar do exército birmanês contra o movimento rebelde Exército de Salvação do Estado Rohingya devido a ataques da rebelião a postos militares e policiais.

Quatro anos depois, o regresso destas pessoas ao território birmanês parece um cenário cada vez mais improvável.

Os 'rohingyas' "vivem na sombra da divisão mundial das vacinas", afirmou Hrusikesh Harichandan, da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, num comunicado.

"A vacinação é vital para que as famílias vivam com dignidade, uma vez que estar confinado é muito difícil para estas pessoas que vivem em campos sobrelotados, onde a maioria tem acesso limitado a água e a estruturas de saneamento, o que aumenta a vulnerabilidade face à doença covid-19", reforçou o representante.

Romain Briey, responsável da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Bangladesh, sublinhou, por sua vez, que deve ser dada "uma atenção especial" a todas as pessoas que apresentem problemas de saúde, nomeadamente hipertensão, problemas cardíacos, diabetes, asma ou obesidade.

"A vacinação de todas as faixas etárias é a única forma eficaz de evitar que o vírus se espalhe ainda mais entre a população 'rohingya' que vive nos campos", apontou.

A covid-19 provocou pelo menos 4.303.610 mortes em todo o mundo, entre mais de 203,3 milhões de infecções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência AFP.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detectado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e actualmente com variantes identificadas em países como o Reino Unido, Índia, África do Sul, Brasil ou Peru.