Ser criança ou não ser

Será que população mundial fica satisfeita com um só Dia em memória da Criança ou em sua Homenagem, a querer provocar nos adultos mais e maior atenção da sua existência e dos seus direitos? E nos outros dias não se justificará que a criança esteja sempre presente ao lado dos adultos, ou seja, sempre que o adulto desejar e o deve querer, na proteção e nos afectos que ela exige? Será que tem algum valor, o Dia, que lhe dedicam os governantes, Instituições, os pais, que nos restantes dias se esquecem deles até fechados e abandonados dentro dos automóveis, que os vendem, os prostituem, lhes provocam sevícias, os não protegem da fome nem das guerras, e apenas dão jeito para preencher uma papelada que permita recorrer a um qualquer subsídio de Instituição Estatal ou de misericórdia ou seminarista? Não será a criança apenas um joguete nas mãos de “senhorio”, para dela tirar rendimento numa qualquer pedreira ou na época das colheitas, ainda, na rua de mão estendida a pedir uma esmolinha enquanto exibe um “santinho” que por ele interceda? E o político que parece sério, ao lado do mafioso”, quando aparecem “bem intencionados” se lembram dele e tudo lhe prometem para quando ele for grande e querer ser também ele um homem com emprego ou sustento próprio, uma Pessoa devidamente respeitada e com futuro, na sua terra natal ou noutra que lhe dê melhores oportunidades de vir a ser alguém neste mundo injusto e controlado pelas castas que se sucedem umas atrás de outras e difíceis de combater? Eu, que sou ainda “criança”, que trago comigo todos os vícios e virtudes desde nascença como trauma, porque fui vítima como as de hoje, também me interrogo se mereço esta vida, ou tinha direito à vida que me negaram e prometiam que seria de bem-estar, com formação capaz e saúde para chegar a velho, sem necessidade de continuar a esmolar por ruas e vielas, do “senhor” que sempre fora privilegiado, deixando-me à porta de nova oportunidade que possa surgir aqui ou noutro lugar mais justo e sério que este, em que suportamos as “passas do algarve” sem tempo para ir até à praia e apanhar uns banhos de sol, já que os “banhos que os governos” desde há muito nos têm dado, só nos bronzeiam na amargura da fome a escorrer em lágrimas à vista ou recalcadas, que dão tão só para um bom retrato a exibir numa notícia, num qualquer museu ou galeria de Arte!

Joaquim A. Moura