Madeira

Os campeões e os miseráveis

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Boa noite!

Parabéns ao Sporting! Ao que mereceu ser campeão em campo, ao que acreditou nos méritos de Amorim, ao que deu oportunidade aos talentos da formação, ao que não pressionou a irreverência que tem direito a errar, ao que festejou ordeiramente e ao que soube ficar em casa.

Parabéns ao Sporting da minha irmã e dos meus amigos hoje felizes, do Pedrinho e do Duarte Agrela, do José, do Tiago e do Diogo Câmara, da Valéria, do Mário e do Francisco Gouveia, do Bernardo Trindade, do Roberto Santa Clara, do Pedro Ramos, dos meus colegas de trabalho, dos nossos vizinhos e de tantos outros que merecem tirar a barriga de miséria prolongada e de um jejum com 19 anos.

Parabéns ao Sporting que tem classe e joga com nível, que não embarca na irracionalidade gerada por uma indústria que, na melhor das hipóteses, pouco dá mais do que uma alegria por ano, mas causa tristezas frequentes, brigas contínuas e violência inexplicável.

Quantos aos outros, os marginais da bola que atentam contra o património, que pintam paredes e enchem os sinais de trânsito de autocolantes, que traficam influências e que hoje conspurcaram o civismo da maioria e que se comportaram como delinquentes, lamentamos a insensibilidade para as causas maiores e colectivas e a forma leviana de gerir emoções em plena crise pandémica, ignorando o distanciamento social, o uso de máscara e outras recomendações das autoridades de saúde.

Por muita tolerância que tenhamos, não é admissível que à boleia de uma euforia contida durante anos tenha sido posta em causa a ordem pública, que alguns tenham tratado com desprezo as forças de segurança, que outros tenham perturbado o descanso dos que trabalham, manchado a festa e esquecido os que se sacrificaram, por vezes, dando a vida, no último ano de privações e de doença.

Não foi para isto que passamos meses confinados, distantes de quem amamos e zelosos da saúde pública. Não foi para isto que cumprimos humildemente ordens soberanas, perdendo empregos, matando esperança e adiando sonhos.

Esta é a noite da vitória leonina, mas também de derrota da classe política que define regras, mas não tem forma de fazer com que sejam respeitadas. Marcelo Rebelo de Sousa pediu sensatez nos festejos e levou sopa como atestam os confrontos em Alvalade. Miguel Albuquerque garantiu não haver excepções ao recolher obrigatório e foi desautorizado pois a esta hora há ainda adeptos alienados na Avenida do Mar. Cabe-lhes tirar as devidas ilações e agir em conformidade se é que não querem ver a cena repetida caso Portugal ganhe o Euro, caso o Benfica ganhe a Taça e caso haja uma insurreição dos “miseráveis” das ilhas.