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"Cérebro" do Estado Islâmico na Alemanha condenado a 10 anos e meio de prisão

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Foto Getty Images

O pregador iraquiano "Abu Walaa", considerado "o cérebro" do grupo Estado Islâmico na Alemanha, foi condenado hoje a 10 anos e meio de prisão por pertencer à organização terrorista e por recrutar seguidores dispostos a realizar atentados.

A sentença foi proferida pelo tribunal de Celle, no norte da Alemanha, que condenou Ahmad Abdulaziz Abdullah A., conhecido como Abu Walaa, concluindo que este imã e a sua rede radicalizaram vários jovens no norte e no oeste da Alemanha e enviaram-nos para áreas controladas pelo Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque.

No mesmo julgamento, mantido sob medidas de alta segurança, outras três pessoas, com idades entre os 32 e os 55 anos, foram condenadas a penas de prisão de até oito anos por recrutarem e radicalizarem jovens alemães, sobretudo nas regiões de Ruhr e da Baixa Saxónia.

Segundo o Ministério Público alemão, estes jovens radicalizados levaram a cabo, no Iraque, atentados que provocaram "um número alto de vítimas" e passaram a fazer parte das estruturas do EI iraquiano.

O veredicto contra Abu Walaa, de 37 anos, encerrou um julgamento que começou em setembro de 2017 - 16 anos depois de o réu ter chegado à Alemanha -- com as acusações de financiamento de terrorismo e de ajudar a preparar atentados.

A acusação exigia 11 anos de prisão, enquanto a defesa pedia a absolvição de Walaa. Segundo concluiu o tribunal, Abu Walaa estabeleceu, na sua mesquita em Hildesheim, na Baixa Saxónia, uma verdadeira empresa de recrutamento, tendo radicalizado pelo menos oito pessoas muito jovens, incluindo dois irmãos gémeos alemães que realizaram um sangrento atentado suicida no Iraque em 2015.

Walaa era uma "autoridade importante e com grande carisma" no movimento 'jihadista' na Alemanha, descreveu o tribunal, adiantando que foi autorizado pelo EI a agir em nome da organização. Muito cauteloso e discreto, era apelidado "o imã sem rosto" porque os seus sermões eram feitos 'online' e, apesar de serem sempre seguidos por muitas pessoas, nunca mostravam a sua cara.

Entre os frequentadores do grupo está pelo menos um dos três adolescentes de 16 anos que colocaram uma bomba num templo sikh na Alemanha, em abril de 2016, ferindo três homens, um deles gravemente. Além disso, Anis Amri, o tunisino responsável pelo ataque no mercado de Natal de Berlim em 2016 (que provocou 12 mortos) terá estado em contacto com esta rede.

O requerente de asilo tunisino, morto pela polícia quando fugia para Itália, esteve numa mesquita de Berlim conhecida pelas suas ligações ao 'jihadismo' e onde Abu Walaa chegou a pregar.

O contacto direto entre os dois homens não ficou, no entanto, provado. A acusação foi baseada principalmente no depoimento de um informador que, durante meses, reuniu provas contra o imã iraquiano, tendo sido dispensado de testemunhar em tribunal por temer pela sua vida.

Outro informador importante foi um combatente 'jihadista' desiludido, que regressou dos antigos territórios do EI, e contou como a rede de Abu Walaa o enviou via Bruxelas e Turquia.