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Financiamento ao clima deve ser discutido anualmente

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O vice-presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI) afirmou hoje, à margem da 26.ª conferência do clima das Nações Unidas, a decorrer em Glasgow, que o financiamento ao clima deve ser discutido anualmente para avaliar o progresso e decidir novas medidas. 

Perante as críticas de países menos desenvolvidos de que o acesso ao financiamento para tomar medidas de mitigação e adaptação às alterações climáticas, Ricardo Mourinho Félix, afirmou que foram feitos "avanços" e "compromissos importantes" na COP26, mas que "tudo isto é um processo". 

"O que não podemos ter, e às vezes é um pouco o que sinto nestas conferências, um comportamento ciclotímico, em que as pessoas antes da conferência têm expectativas muito altas e depois chegam ao fim e pensam sempre nunca se chegou onde se queria chegar. É um processo que tem vindo a ser aprofundado ao longo do tempo todos os anos", argumentou.

O antigo secretário de Estado Adjunto e das Finanças português defende que governos e instituições financeiras devem trabalhar em períodos de discussão e de compromisso anuais, e não de cinco em cinco anos como define o Acordo de Paris. 

"O que não podemos é ter sempre este comportamento de estar sempre desiludidos e achar sempre que se conseguiu pouco. Podia-se conseguido mais poder? Podia. Mas então temos que fazer trabalhar um ano inteiro para que no próximo ano se consiga mais. Agora o tempo não é de desalento, é de olhar para frente", afirmou.

Durante a COP26, o BEI e a Allianz Global Investors lançaram um fundo de ação climática de 500 milhões de euros, numa parceria público-privada que integra ainda os governos da Alemanha e Luxemburgo, Fundo Nórdico de Desenvolvimento e Folksam.

Assinou também uma parceria com a União Europeia e Bill Gates, fundador do projeto Breakthrough Energy, para mobilizar até 820 milhões de euros entre 2022 e 2026, a fim de acelerar a implantação e a comercialização de tecnologias inovadoras como hidrogénio verde, combustíveis sustentáveis para a aviação, captura direta do ar e armazenamento de energia de longa duração. 

O BEI associou-se a também a um compromisso de mais de vinte países e instituições, incluindo Portugal, mas sem a China ou Rússia, de deixar de financiar projetos de combustíveis fósseis até ao fim do ano de 2022.

Na semana passada anunciou ainda que a partir de 2022, o BEI vai deixar de financiar projetos de baixo carbono a empresas com negócios que ainda têm emissões de gases com efeito de estufa elevados, ou continuem a operar ou investir em atividades poluentes.

As empresas que trabalham com o BEI terão de desenvolver e apresentar planos de descarbonização e resiliência.

Mourinho Félix disse que o BEI investe em projetos que "tenham condições de desenvolvimento e que, chegando a um estágio de desenvolvimento em que já não precisam de ter fundos públicos que possam, então prosseguir com fundos privados". 

Porém, a seleção é criteriosa, garante, porque "o financiamento tem sempre um preço e esse preço implica disciplina, disciplina na utilização, disciplina nos investimentos, implica criar projetos que sejam resilientes e com uma viabilidade de médio e longo prazo".  

Decisores políticos e milhares de especialistas e ativistas reúnem-se até sexta-feira na COP26 para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030 e aumentar o financiamento para ajudar países afetados a enfrentar a crise climática.

A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.

Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.