Crónicas

Alergia ao setor privado

Como se o empreendedorismo, a iniciativa privada e o desenvolvimento de negócios próprios tivessem que redundar num enfraquecimento das instituições públicas

Os debates para as eleições presidenciais assumiram este ano particular relevo pelo aparecimento de um alvo a abater. André Ventura foi como esperado o centro de todas as atenções. Desses embates salta à vista a forma como foram os candidatos ditos de direita quem melhor conseguiu (a espaços) anular o reconhecido jeito do candidato do Chega para a televisão. Para um populismo parco em ideias e mais adepto do ser do contra e dizer o que as pessoas querem ouvir. De facto, na ânsia de esmagar, para ganharem um eleitorado bastante mais dividido, os candidatos conotados com a esquerda acabaram por se perder em preconceitos ideológicos sem se conseguirem desprender de um passado que lhes carrega com exemplos anti-democráticos históricos e dos quais aliás fazem muitas vezes bandeira, caindo em aparentes contradições.

Mas para além desta guerra de palavras e de conceitos muitas vezes vazios de substância de um lado e do outro uma das poucas ideias claras e evidentes que saiu destes confrontos foi o aproveitamento político da situação absolutamente excepcional em que vivemos, para assumir uma declarada alergia ao setor privado. Como se o empreendedorismo, a iniciativa privada e o desenvolvimento de negócios próprios tivessem que redundar num enfraquecimento das instituições públicas. Permitir que exista liberdade de escolha entre uns e outros e dar oportunidade a quem mais produz é acreditar que o progresso económico “vem da inventividade, da habilidade, da determinação e do espírito pioneiro de homens e mulheres extraordinários” como disse um dia Margaret Thatcher. Um SNS forte e eficiente pode muito bem coabitar com o sector privado. Pode aliás tornar-se mais eficiente seguindo boas práticas e princípios de boa gestão de quem se preocupa quando gere o que é seu ao invés do que é dos outros.

É fácil cairmos na propaganda de tudo oferecer sem fazer contas ou sem desenhar caminhos de prosperidade que nos permitam enquanto Estado conseguir apoiar os trabalhadores (não confundir com indigentes). É simples querermos tudo da União Europeia e no fim dizer que não pagamos ou vociferarmos contra a propriedade privada quando somos o partido com mais propriedade sem que esta seja sujeita a impostos. Mas são esses princípios do Estado paternalista a que tão confortavelmente nos habituámos, que nos carregam desses mesmos impostos e nos retiram liberdade de escolha, tornando-nos dependentes de uma máquina que serve só alguns e que ao contrário do que é apregoado vai criando cada vez mais assimetrias entre ricos e pobres. Para distribuir é preciso criar. Para ter é necessário fazer. Não é justo que depois de todos os impostos que pagamos ainda termos que levar com consultas e cirurgias permanentemente adiadas e que muitas das vezes permitam a quem mais tem recorrer aos seguros de saúde deixando os mais pobres entregues à sua própria sorte, numa qualquer sala de espera.

Assim como não é justo que quem menos tem, tenha que frequentar escolas com poucas condições quando se eliminam contratos de associação com o ensino particular e cooperativo por simples cegueira ideológica. Andamos completamente sufocados com taxas e taxinhas para que o Estado tudo controle, induzindo-nos em erro quando no fim, ao darem qualquer coisinha em troca nos dizem “estão a ver, de outra forma não recebiam nada”. Parecem aquelas pessoas com síndrome de ‘Munchausen’ que mantêm os filhos doentes para que nunca se libertem da dependência do tratamento e do acompanhamento. É fundamental que nos saibamos desprender deste aparente conforto que nos obriga a caminhar de mão estendida. Para isso precisamos de uma maior liberdade económica. Liberdade de escolha não é deixar cair os mais fracos é entregar nas nossas mãos o poder de fazer diferente. Todos nós queremos um SNS forte. Todos queremos boa educação e melhores condições de vida. Mas queremos acima de tudo poder optar pelo que é melhor para nós num determinado momento.

“Eu entrei no governo com um objetivo: transformar o país, de uma sociedade dependente numa sociedade auto-confiante, de uma nação dê-para-mim em uma nação faça-você-mesmo.”
Margaret Thatcher

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