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61% das transações comerciais privadas são feitas em moeda estrangeira na Venezuela

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Transações em moeda estrangeira, principalmente em dólares norte-americanos, abrangem 61% das operações não estatais na Venezuela, com o mercado a procurar "divisas" para manter-se em atividade, disse hoje o presidente da Datanalisis, empresa de análise de dados.

"A massificação do uso de moeda estrangeira é evidente. Mais de 61% das transações privadas são em moeda estrangeira", disse Luís Vicente León durante um encontro com clientes do banco venezuelano Banplus.

León, que também é analista político, explicou que os distintos setores do mercado venezuelano "se estão adaptando a uma nova realidade, começando pela banca, que tem buscado novos mecanismos para atender as necessidades de seus clientes com contas de custódia (de moeda estrangeira), mecanismos de pagamento, transferência e câmbios".

Explicou que "embora a crise venezuelana seja a pior de sua história recente, agora ampliada pela covid-19", quem capta moeda estrangeira "tem mais capacidade para enfrentar" a situação, dando como exemplo "os exportadores do Lago de Maracaibo, de rum, de cacau, feijão e soja".

"Mas há novos setores que parecem vencedores pós-pandemia, os que estão ligados à alimentação local, à saúde e medicamentos, tecnologia e distribuição", explicou.

Por outro lado, explicou que "a forte queda da receita" em bolívares, a moeda venezuelana devido à descida da produção interna e às sanções internacionais, "e a grande crise interna" não deixam outra alternativa que "buscar a geração autónoma de divisas para quem quiser permanecer ativo no mercado venezuelano".

"Pode haver várias outras opções menos claras, mas as mais importantes são as exportações (...) que vão ser um estímulo imparável, apesar dos grandes bloqueios para operar na Venezuela", explicou.

Segundo Luís Vicente León, apesar de a imprensa falar de uma possível dolarização da economia porque os preços são afixados localmente em dólares, esta "não é uma interpretação correta", pois não implica a eliminação do bolívar, mas "a possibilidade de tornar mais fluidas as operações com moeda estrangeira que, de facto, ocorrem no mercado".

Com relação à situação dos EUA e o modo como afeta a Venezuela, explicou que com Joe Biden não haverá uma mudança na posição frontal do governo norte-americano contra o de Nicolás Maduro, e que não está previsto o fim das sanções internacionais, a favor da quais também votaram os senadores democratas.

Mas "haverá mais disposição para negociar isenções humanitárias que reduzam o custo das sanções sobre a população básica" e "isso abrirá algumas permeabilidades nas sanções, especialmente no setor de petróleo", disse.

No entanto diz que Joe Biden "continuará a pressionar para uma mudança de Governo, na Venezuela, mas não com o mantra clássico de cessação da usurpação, transição e eleições livres" para concentrar-se "numa negociação de condições contra as sanções", "com (Nicolás) Maduro no poder".

Adverte que "enquanto não ocorrerem as mudanças políticas e económicas necessárias para restaurar a confiança (local), é impossível alcançar o equilíbrio económico" na Venezuela.

"Os câmbios políticos em um país geralmente não se produzem por crises económicas, mas por pressões políticas e sociais (...) "as sanções pessoais podem ajudar a pressionar para câmbios, se forem reversíveis, mas as (sanções) económicas, petrolíferas e financeiras, têm sido muito dececionantes na história do mundo", disse.

Como exemplo referiu que "Cuba foi sancionada quando Fidel (Castro) era jovem, e aí estão eles. No Irã, foi a queda do Sah e lá estão eles. O avô de Kin Jun Un, de Coreia do Norte, foi sancionado e está o neto. Infelizmente, o mundo não aprende com os erros".

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