Madeira

Major-general Carlos Perestrelo abandona a Madeira com “sentimento de profunda injustiça”

Comandante do Exército considera “estranhas as razões” que levaram à sua exoneração do cargo

Carlos Perestrelo diz que leva “a Madeira no coração” e manifesta desejo que todos continuem a apoiar a Instituição Militar e os novos comandantes agora nomeados. Ver Galeria
Carlos Perestrelo diz que leva “a Madeira no coração” e manifesta desejo que todos continuem a apoiar a Instituição Militar e os novos comandantes agora nomeados.

O major-general Carlos Perestrelo considera “estranhas as razões” que levaram à sua exoneração do cargo de comandante da Zona Militar da Madeira e do comando operacional da Zona Militar da Madeira, a 24 de Outubro, na sequência do polémico disparo de um canhão por um civil numa prova de golfe no Santo da Serra.O oficial do Exército diz que abandona o cargo “com um sentimento de profunda injustiça”.

Numa missiva de despedida da Região dirigida à comunicação social da Madeira, o oficial do Exército recorda que exerceu funções de Comandante Operacional e da Zona Militar da Madeira, de Junho de 2017 a Outubro de 2019 e, de acordo com a legislação em vigor, tinha duas dependências hierárquicas. Como Comandante Operacional da Madeira esteve na dependência do Chefe do Estado- Maior General das Forças Armadas e foi o seu representante na Região Autónoma da Madeira (RAM).

“Como Comandante da Zona Militar da Madeira estive na dependência do Chefe do Estado-Maior do Exército e fui o seu representante na Região Autónoma da Madeira (RAM)”, refere na nota de imprensa.

“A notícia que despoletou a minha exoneração de funções foi tornada pública na edição do Diário de Notícias – Madeira (DN-M), de 23 de Outubro de 2019, e estava relacionada com um evento que se tinha realizado há cerca de um ano (6 de Outubro de 2018) e que foi então considerado um sucesso pela generalidade dos jornais regionais (inclusive DN-M) e pela RTP - Madeira”, recorda Carlos Perestrelo, que não foge ao assunto que ditou o seu afastamento.

Sublinha que este evento, que era da responsabilidade do Exército Português e foi designado por “5º Torneio de Golfe da Zona Militar da Madeira, “estava devidamente autorizado e calendarizado no ‘Programa Dom Afonso Henriques’, que visa promover e desenvolver actividades de natureza cultural, recreativa e desportiva”.

Neste âmbito, e inserido numa parceria entre o Clube de Golfe do Exército (CGEx) e o Clube de Golfe do Santo da Serra (CGSS), a Zona Militar da Madeira, realizou uma actividade de ‘Divulgação e Imagem’ do Exército, para angariação de voluntários na RAM. De referir, que este torneio, de 6 de Outubro de 2018, integrou alguns recursos humanos e materiais, nomeadamente “uma viatura de recrutamento, uma cozinha rodada e um “Obus 8,8cm / Modelo 1943” (arma obsoleta e museológica que foi utilizada na 2ª Guerra Mundial) com a respectiva guarnição e onde se incluiu um disparo, pelo anfitrião (Presidente do CGSS), duma munição de “pólvora seca”, iniciativa já habitual noutros eventos institucionais”.

Estiveram presentes no evento desportivo cerca de 100 jogadores, onde cerca de 20 eram militares e alguns deles vindos do Continente.

“Toda esta realidade de factos, levaram-me a um sentimento de profunda injustiça, nomeadamente pelo apoio permanente que sempre senti da minha hierarquia militar e que me deu o alento para a realização, durante o meu mandato, de inúmeras iniciativas inéditas para prestigio da Instituição militar nesta região insular e que levou a resultados excepcionais com uma melhoria muito significativa ao nível de voluntários para servir o Exército, na RAM”, escreveu Carlos Perestrelo.

“Merece igualmente relevo, recordar o meu zelo e dedicação à causa militar e onde os valores humanos que fui adquirindo, foram sempre uma tónica, fruto de uma esmerada educação que os meus pais me proporcionaram e que foram sendo alicerçados nas escolas que frequentei na minha juventude. A experiência de uma vasta e intensa carreira militar, deram-me o resto.

Muito aprendi ao longo da minha carreira militar com superiores e subordinados, promovendo sempre as relações humanas e a transparência de uma aproximação entre a sociedade civil e militar”, desabafou o major-general.

Diz que está de “cabeça erguida” e com “a convicção que cumpri a minha missão na Madeira e Porto Santo”. Carlos Perestrelo diz-se “orgulhoso pela solidariedade largamente demonstrada pelos militares e civis” que com ele serviram, assim como as inúmeras mensagens recebidas de muitos amigos do Continente e dos Arquipélagos e de diversos representantes de vários quadrantes políticos, onde se destacou o imediato comunicado de apoio e o público louvor do Governo Regional da Madeira.

“Gostaria, ainda, de deixar claro que sempre pautei a minha conduta pelo estrito respeito pelas funções que exerci e pelas determinações superiores e que, em nenhum momento, pratiquei qualquer acto que não estivesse previamente autorizado pelos legítimos representantes da hierarquia militar”, sublinha Carlos Perestrelo.

Termina a carta, dirigida à comunicação social, dizendo que leva “a Madeira no coração”, manifestando o “desejo que todos os madeirenses e porto-santenses, continuem a apoiar incondicionalmente a Instituição Militar e os novos comandantes agora nomeados”.