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Nero viu a cidade arder na Madeira

Em 2017 publiquei um artigo intitulado “Nero viu a cidade arder” em que abordava os sinais dos tempos da vida política na Madeira.

Agora, nestes dias que são uns primeiros e outros últimos em Roma, recordei-me do que escrevi tendo em conta os últimos acontecimentos na sequência dos resultados das eleições regionais. Quanto aos Três refiro-me a ‘Nero’, ‘Potens’ e ‘Mamon’, que mandam mais do que os 21 deputados do partido vencedor das últimas eleições na Madeira. Agora o Nero é outro, colocando tudo a ‘arder e estremecer’. O primeiro a ser ‘queimado’ e a ‘estremecer’ foi o Dr. Tranquada Gomes.

O novo Nero terá o poder máximo na Região Autónoma da Madeira. Vai ser Presidente da Assembleia Legislativa. O desejo e a exigência do lugar foi muito bem arranjado e provocou o ‘incêndio’. Tal como Nero, no século I, viu a cidade a arder em Roma.

O trio de Odemira, com esta brincadeira, vai ser responsável pelo aumento da despesa pública tornando tudo muito mais dispendioso para o erário público e para os madeirenses. Criando, desde logo e sem percebermos muito bem para quê, mais duas secretarias regionais: a do Mar e a da Economia. Vamos lá ver: mais tachos, mais assessores, mais directores e especialistas, um rol de gente para encher o chouriço do controle endeusado, Potes (ou seja o poder) e Mamon (o dinheiro).

Uma ilha como a Madeira nunca na sua história teve um Governo com 9 Secretários. Tudo isto leva-me a recordar e a pensar no Dr. Manuel António que foi secretário regional. A estrutura anunciada faz com que as áreas que o Dr. Manuel António tinha sob a sua tutela constituam agora 3 secretarias. E entre os anos 2000 e 2004 teve a área da Habitação e em todos os mandatos as casas do povo que estão numa quarta secretaria: os Assuntos Sociais.

Os três passarinhos a bailar que acabam de nascer no Governo Regional vão fazer a festança, mas considero tudo isto irracional e ridículo.

Em tempos em que devemos pagar a dívida da Madeira, em tempos em que deve haver maior zelo e parcimónia na gestão da coisa pública, o que nos aparece é um amontoado de nomes para cargos, tudo à custa do erário público. E ainda conseguem dizer (sem rir) que estão a pensar na Madeira e na estabilidade. Tudo eufemismos para fazer de nós idiotas.

Será que os madeirenses estão dispostos a pagar cada vez mais impostos, ter cada vez menos rendimento disponível para a sua vida, feita de sacrifício e muito trabalho, para o Governo andar a esbanjar dinheiro em mais duas novas secretarias, que visam apenas satisfazer a vaidade cega pelo poder e a ganância?

O excesso de fragmentação de departamentos gera ineficiência e desarticulação de serviços, sendo de difícil compreensão para o comum dos mortais como é que um arquipélago com duas ilhas habitadas com 255.650 habitantes (2,5% da população de Portugal) tem tantas Secretarias Regionais, com o que isso implica ao nível das suas estruturas e orgânicas (mais direcções regionais, assessores, especialistas, etc.).

Analise-se a vantagem de determinadas aéreas estarem juntas na mesma secretaria, como foi o exemplo da água de rega com a água de consumo humano, que tinham por destinatário a agricultura.

Agora vejamos o raciocínio político actual. Ficam as 7 secretarias e acrescentam-se mais duas capelinhas: uma para o sacristão e outra para o sineiro, com as respectivas mordomias, claro está!

Numa ilha com a dimensão da Madeira, requer-se maior critério e parcimónia na gestão naquilo que pertence a todos. Exige-se mais rigor, competência e melhor gestão. E isto preocupa-me seriamente como madeirense porque a gestão da coisa pública é de todos nós, cidadãos. Independentemente dos partidos que governam.

Em Roma reparei que há um grande número de pessoas sem-abrigo e de pobres na rua. Lembro que na Madeira estão mais de 1.000 idosos à espera de vaga nos escassos lares de idosos que por aqui existem. Recordo também o seríssimo problema na saúde com listas de espera para as cirurgias. Matérias em que o trio Odemira (CDS) tanto criticou no governo do PSD. Como é que vai acabar o Trio?

A ganância e os egos poderão fazer outra Roma arder e um povo padecer? Até parece que há sirenes a tocar nos corredores do poder e é o “Salve-se quem puder”.