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A mais antiga casa de Vinho do Porto em actividade celebra 430 anos

Foto Global Imagens
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A Croft celebra este ano o seu 430.º aniversário e nasceu em Inglaterra, em 1588, quando Portugal estava sob domínio, apresentando-se por isso como “a mais antiga casa de Vinho do Porto em atividade”.

O atual proprietário, The Fladgate Partnership, detentor também das marcas Taylor’s, Fonseca e Krohn, assinalou a efeméride lançando o Croft 430th Anniversary Celebration Edition, uma edição limitada de 100 mil garrafas de um vinho do Porto Reserva ruby, que serão comercializadas nos 30 países onde a marca está presente.

A origem desta casa multissecular situa-se na cidade inglesa de York, pela mão de Henry Thompson, desde 1588, “o ano da frustrada tentativa de invasão de Inglaterra pela Armada Invencível do Rei Filipe II de Espanha”, recorda a The Fladgate Partnership.

Os rótulos das garrafas comemorativas ostentam precisamente a recriação da obra “Naufrágio da Armada Espanhola em 1588”, do artista plástico holandês Jan Luyken, que faz parte do acervo do Rijksmuseum de Amesterdão.

Henry Thompson tornou-se membro da “Merchants Comapany of York” nesse ano, o que lhe permitiu usar os direitos atribuídos a esta companhia pela rainha Isabel I, para, assim, constituir um negócio de vinhos.

O primeiro Croft entrou na empresa, como sócio, só em 1736, começando aí o percurso de uma casa que se tornaria famosa, sobretudo pelos seus vinhos do Porto, ainda que se já conhecida pelos seus “brandies”.

A empresa proprietária desta casa diz que “um antigo livro de registos” mostra que, em 1788, seguiu para Inglaterra um vinho do Porto vintage datado de 1781, considerado como sendo o primeiro vinho desta categoria especial de que há registo.

“Membros das duas famílias uniram-se através do casamento em seis ocasiões” e nos armazéns da The Fladgate Partnership existem ainda “pipas com as iniciais T e C”, de Thompson e Croft, duas famílias, disse à agência Lusa o diretor-geral da The Fladgate Partnership, Adrian Bridge.

Os Thompson saíram da empresa em 1807 e os Croft ficaram pela primeira vez com a sua totalidade, comprando vinho a lavradores durienses e vendendo-o sob o seu nome.

“Nessa altura, os comerciantes não tinham propriedades”, recorda Adrian Bridge.

Os Vinhos do Porto Croft são de uvas provenientes da Quinta da Roêda, no Pinhão, adquirida apenas em 1899. “São 130 hectares com 330 mil videiras, algumas das primeiras décadas do século XX”, resume aquele responsável.

A casa Croft, entretanto, foi vendida em 1971 ao grupo IDV, que anos depois evoluiu para Diageo, e a The Fladgate Partnership comprou-a em 2001, com o negócio a ser fechado em 10 de setembro, véspera dos ataques terroristas às Torres Gémeas, em Nova Iorque.

Adrian Brigde sorri quando recorda esses tempos, deixando no ar dúvidas sobre se o negócio teria ido para a frente depois do 11 de setembro de 2001. “Não sei o que teria acontecido”, afirma.

A aquisição, por cerca de 31 milhões de euros, envolveu ainda a Delaforce e as duas marcas juntaram-se à Taylor’ e à Fonseca, dando origem no ano seguinte ao atual grupo proprietário.

Adrian Bridge afirma que a Croft tinha “uma história fantástica, mas faltava-lhe amor e investimento”, porque a Diageo, que também tinha Sandeman, não deu grande importância ao Vinho do Porto e pouco investiu nele.

“As vendas no mercado nacional, quando nós a compramos, eram de 144 caixas por ano (uma caixa leva 12 garrafas). Agora vendemos 12 mil caixas”, informa.

A Diageo queria desfazer-se da Sandeman e da Croft, mas Adrian Bridge optou por esta porque tinha “uma quinta, a Roêda, com grande qualidade e a Sandeman não tinha qualquer quinta”, ainda que as suas vendas fossem superiores às da Croft em volume.

A The Fladgate Partnership reorganizou as adegas, reinstalou os velhos lagares e reintroduziu ainda a tradicional pisa das uvas à moda antiga, abandonada desde 1963, e, desse modo, os vinhos do Porto Croft, com destaque para os ‘vintage’, voltaram a brilhar, nomeadamente, mantendo uma forte presença em Inglaterra, o seu país de origem.