“Caminhos reais...”

“Vias eternas,

calçada testemunha do tempo de reis,

são pedras cravadas de sonhos...

Restícios de outrora,

hoje rua de abandonos.

E como nos doi a alma!

ver tamanho desmazelo,

nestas vias de pedra trabalhada

que o homem Madeirense

com fé e calma,

construiu.

Nossos antepassados aguerridos,

com a vontade de as aldeias unir...

Sonharam numa melhor vida,

mas tiveram de partir.

Num adeus deste mundo

ou numa emigrante triste despedida...

Desde Boaventura ao Arco...

Ai se estas pedras falassem !

E eu até imagino,

casos de promessas de amor ,

na fria pedra do caminho

com vela acendida a nosso senhor

pra que ao emigrar não se afunde o barco.

Casamentos arranjados...

numa ida á fonte no meu Arco de São Jorge,

as pedras ouviram docemente,

decorria o ano de 1905...

inaugurou-se então a nova fábrica de aguardente.

Avistavam-se as cremesses do divino espírito Santo,

que ao domingo pela tarde iam de porta em porta,

também se via o Feiticeiro do norte o trovador,

que rimava a poesia por tudo o que era canto...

Era miudo de cara e tinha uma perna torta.

E quantos homens às redes carregaram,

desde o Arco até a Boaventura ,

levando doentes ou fidalgos,

isto sim eram Homens de bravura.

Minha terra , minha Santana

meu São Jorge e meu Arco!

Sois um exemplo das honrarias leais,

Não tendes homem fraco!

As pedras são a saudade guardada no tempo,

o caminho real eterniza o mais puro amor...

do Madeirense pela ilha

Este é o casamento perfeito, sim senhor!

pois este sentimento fervilha

em cada estrada que é maravilha!

Hoje o feiticeiro do sul canta versos...

Pelas aldeias da velha Santana...

Saudades da sua tia que na Tranquada residia,

dos primos que habitam ao sítio do Jogo da bola,

muitos deles foram emigrantes, sabia?

Pelo mundo andaram dispersos.

E quem não tem saudades de seus entes,

E “cassoa” numa boa conversa...

Vai á matança em casa de parentes,

e pra regressar é sempre sem pressa!

E a lua já vai alto...

As rimas por hoje já escrevi ,

E agora vou embora até ao Arco ,

Sou o feiticeiro do Sul,

deixo-vos aquele abraço,

Pois só tento ser feliz!”