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Carta aberta a Pedro ramos

Desde que participo neste espaço e salvo algumas notas pontuais, evito escrever sobre Saúde e faço-o por um dever profissional de reserva em torno de uma área merecedora do maior rigor e sensibilidade possíveis na abordagem pública. Ora, perante condições excecionais, abro hoje uma exceção.

A Saúde na Região tem vivido, ao longo dos últimos 2 anos mas não só, um período conturbado. Apesar disso, tenho bons motivos para esperar o melhor do Dr. Pedro Ramos. Conheci-o há praticamente 10 anos, na Universidade da Madeira, onde nos cruzámos como Professor e aluno, e guardo desses tempos a imagem do Professor, Médico e, mais tarde, Diretor do Serviço de Urgência dedicado, que, orientando-se por elevados padrões de excelência, fazia questão de promovê-los junto daqueles com quem se cruzava.

Vem tudo isto a propósito da polémica levantada ao longo das últimas semanas sobre a falta de medicamentos – e, agora, de vacinas – na Região. Não tenho motivos para considerar que essa falta não existiu, nem para considerar que não esteja agora a ser resolvida, ou tal atitude configuraria a propagação do dolo. Mas ainda que não questione a capacidade de Pedro Ramos para resolver o problema, questiono a atitude pública perante a polémica instalada.

Com Pedro Ramos, o Professor e Médico, aprendemos o rigor da clínica primeiro e da defesa da Madeira depois. Agora, Pedro Ramos, o Secretário, saberá certamente melhor do que eu o que nos falta. Eu, por exemplo, continuo a ter dúvidas de que nos faz muita falta um hospital quando nos faltam médicos e medicamentos e ainda esta semana António Pedro Freitas dava o mote acerca da reflexão que é preciso ter em muitas outras matérias. De todo o modo, tudo isso são opções que deixo para o Pedro, na esperança de que decida sempre mais por convicção clínica e científica do que por convicção partidária e que não contrarie factos com argumentos poucos razoáveis, enfrentando o problema com a determinação que a solução exige.

Aqui chegados, resta-me esperar que com Pedro Ramos, o Secretário, possa continuar a aprender muita coisa, menos o viés político que tolda o pensamento. Estou certo de que em muitas coisas discordaremos muitas vezes, mas espero que na Saúde sejam mais as vezes em que, aprendendo, concordamos, do que as vezes em que, desaprendendo, discordamos. A Saúde merece esse rigor.