Falácias
Incrédulo, pasmado, ofendido, revoltado, ao assistir ao Grande Informação de 01-03-2017 na RTP-Madeira.
“As cidades são filhas do comércio e a sua principal razão de ser”. Até começaram bem, mas a dada altura a falácia parecia tanta que cheguei a pensar que confundiram o dia das Petas com 1 de Março, tamanhas foram as mentiras, desinformações, interesses ocultos e manipulações da realidade que pareceram ocorrer naquele miserável sketch de 20 min pago com o meu dinheiro, no qual não se inclui QUALQUER apoio da CMF!
Será o povo assim tão “incapaz” para não entender que aquela distorcida reportagem não passou de uma triste operação de marketing eleitoral autárquica?
Ainda se tentou disfarçar a reportagem jornalisticamente com a entrevista a comerciantes, mas com pouco efeito pois os entrevistados não ajudaram muito a campanha eleitoral:
-Um livreiro que abriu a loja ao lado da futura pastelaria (cuja senhorio prepotente faz concorrência desleal aos senhorios da cidade), com a promessa confiável que a CMF vai dinamizar o comércio daquela rua.
-A Sra. Jocelina, que diz que as suas vendas melhoram no sábado (dia do cortejo alegórico) graças à gelataria que abriu na Rua da Queimada, pois aquela zona tem falta de cafés... é piada?!
-Um merceeiro que diz que o IRS prejudica a fluidez do seu negócio. Terão sido os clientes que vão lá beber poncha que lhe explicaram isso? É que tenho visto ali umas personalidades, talvez por isso que foram entrevistados...
-A florista, a única sincera no meio disto tudo, talvez porque ama a cidade antes de preferir gabar a CMF.
Uma reportagem repleta de baboseiras e contradições entre jornalista-CMF-comerciantes-imagens. Gabou-se o passado, associando-o ao presente e sublinhando a incerteza do futuro. O Sr. Presidente da Câmara e a Sra. EXPERT em economia a se gabarem dos apoios que dão ao comércio, os comerciantes a dizerem que não têm apoios há 20 anos e a reportagem a mostrar cada vez mais lojas fechadas nas ruas (imagens recentes)...
As declarações por parte da CMF foram ofensivas a muitos comerciantes:
Programa de revitalização do comércio? Fundos para a requalificação do comércio? Apoio à restauração? 70 medidas com efeitos visíveis??! Mas que raio vem a ser isto? Depois de quererem arranjar esquentadores e máquinas de lavar, agora pretendem aplicar fundos para recuperar uma balança e uma ESTANTE? A Sra. Raquel da CMF pensa que a revitalização do comércio se dá com apoios para arranjar PRATELEIRAS, pensa que isto é casa de bonecas da sua infância, suas memórias das mercearias nostálgicas da sua terra natal... Ah, já percebi! A solução está no DÍSTICO que vão por nas portas das lojas, um carimbo ditatorial para marcar quem apoia a coligação nas eleições autárquicas, o miraculoso autocolante que vai atrair clientes e subir as vendas dos comerciantes?!
Sr. Presidente da CMF, porque não divulga quantas empresas e restaurantes a CMF apoiou e quais (com nome e morada, para a gente ir lá ver)?! Porque não divulga quantos investidores (e quais) pertenciam a esses milhares potenciais investidores que foram ao Gabinete? Porque não divulga quantos investidores no comércio não puseram sequer os pés nesse Gabinete? Porque não divulga quais são os efeitos visíveis dos programas, apoios e milagres da CMF, com nome e morada para irmos confirmar? É porque ninguém consegue ver... O comércio da cidade está abandonado, sem condições, sem estacionamentos, mais que nunca! Mas as BALANÇAS estão a funcionar as prateleiras bem fixadas à parede e não graças à CMF!
No fundo, só percebi dois básicos propósitos desta Grande Informação da RTP-M:
-Uma operação de marketing infeliz pois como disse o jornalista sobre o comércio e a cidade: “uma relação histórica feita de altos e baixos, de Mudança” (neste caso, mudança para pior).
-Mas principalmente, e para ofuscar o propósito ameaçador da mensagem, toda a reportagem congelou quando o Sr. Presidente Cafofo gaguejou novamente, olhou para o lado e disse: “uma cidade que tenha espaço público... um clima que favorece... esplanadas... desde que... sejam disciplinadas e ordenadas ...(pausa comprometedora)...”. Sr. Presidente, está à espera de quê para fechar isto tudo?
O que merecia era uma greve, um manifesto drástico de todo o comércio: Fechar as portas durante um mês, 30 dias seguidos! Talvez assim os políticos tivessem coragem de sair às ruas desertas, sem esplanadas e sem comércio, e ver como está a fantasmagórica cidade do Funchal, mal ordenada, mal organizada e mal limpa. Mal aproveitada.
Obrigado ao diário por não censurar a minha carta.
A. Fraga