Crónicas

É tempo de responsabilizarmos as pessoas

O que mais me aflige é que nem com mais de 100 mortes que podiam ter sido evitadas nem com bancos falidos e prejuízos brutais para todos a face muda nem

Vivemos numa era marcada pela insegurança global, pelos conflitos externos e a liberalização de comportamentos onde pessoas com responsabilidades demonstram de forma reiterada que as suas prioridades gravitam em volta da estratégia e jogos de bastidores. Criados para serem bem falantes com comportamentos plásticos e sorriso fácil tudo é programado até a posição das mãos, os gestos da cara, os “jeitos” do cabelo. Falta profundidade, escasseiam conhecimentos técnicos mas mais grave que isso tudo, perdem-se no essencial, aquilo que são as verdadeiras necessidades das pessoas, as preocupações com os mais desprotegidos, o apoio e proteção às populações, o garantir da segurança e da presença tão essencial para a estabilidade e qualidade de vida.

Com estes exemplos dos incêndios ou mesmo da corrupção de um primeiro ministro ou dos cursos “inventados” por várias pessoas com responsabilidade nacional percebemos claramente que muitos deles não estão verdadeiramente aqui para nós, estão aqui por eles, pelas suas “quadrilhas” e defendendo única e exclusivamente os seus interesses pouco lhes interessando que existam tantos a viver no limiar da pobreza, que outros querem crescer e melhorar a sua qualidade de vida mas assim não conseguem. Que prejudicam crianças e idosos, trabalhadores e pessoas com limitações físicas. Saímos todos nós prejudicados. O que mais me aflige é que nem com mais de 100 mortes que podiam ter sido evitadas nem com bancos falidos e prejuízos brutais para todos a face muda nem a vergonha dá de si.

A conversa é sempre a mesma, de uns e de outros, os que lá estão dizem que a culpa é do passado e que estão a trabalhar para melhorar, os que não estão dizem que tinham avisado e esquecem-se do que fizeram antes. Os que estão mas não estão só estão quando é bom e quando não é dizem que não é nada com eles. Parecem as conferências de imprensa após os jogos de futebol. Não há capacidade para fazer um mea culpa, não há um pingo de humildade não há uma demonstração clara de querer mudar o rumo dos acontecimentos , porque as prioridades estão nas posições, no segurar da estratégia da peça porque pedir desculpa é admitir falhanços e isso nem pensar.

Se não temos assim quem se preocupe connosco está na altura de cuidarmos mais de nós. Denunciarmos o que está mal nem que para isso tenhamos que colocar todo o sistema político em causa. Não é admissível vermos impávidos e serenos tanta incompetência à custa de interesses instalados, à custa do interesse de alguns “deles” nem da substituição de pessoas válidas e de técnicos com provas dadas por “boys” como vimos por exemplo na estrutura da Proteção Civil nacional a dois meses da época dos fogos com os resultados que estão à vista.

Entretanto perderam-se mais de 100 vidas, milhões em bens materiais, marcas psicológicas profundas que ficaram para sempre. As vidas não voltam mais, as indemnizações serão pagas pelos mesmos de sempre. Os criminosos continuam por aí e aos irresponsáveis basta mudar de posto que o tempo logo se encarrega de apagar. Quantos mais terão de morrer? Não é admissível ter estruturas governamentais ou locais que não têm como missão e objectivo principal pensar em nós. Está na altura de batermos o pé e elevarmos a nossa consciência cívica. Estamos fartos de ser roubados, enganados e ludibriados. É tempo de responsabilizamos as pessoas.

P.S. Uma palavra especial para os nossos heróis sem capa, os bombeiros. Que o exemplo deles de servir a causa pública pondo os seus interesses e a sua própria vida em segundo plano possa acordar a consciência de alguns.