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Rameiras e os chapéus alheios

O adágio popular, que utiliza um sinónimo da primeira palavra é mais conhecido precisamente por utilizar essa mesma palavra, mas começar um artigo vernaculando, assim, sem mais, não é, com certeza, uma coisa que fique bem e até, talvez, não seria publicado.

Já no conteúdo, se dissermos ”putas e vinho verde” já fica mais perceptível à maioria dos mais habituados aos termos populares.

E quanto aos chapéus, próprios ou alheios, já lá vamos mais adiante.

Bem, sem ou com algum vernáculo à mistura, esta é uma frase que traduz alguma da alma marialva do nosso bem português povinho, já com mais de oito séculos de história quase contínua, apenas intervalada por uns quantos vizinhos que nem tiveram a coragem de anexar convenientemente os tugas e tentar formar uma Ibéria por inteiro: já sabiam que estes tugas não seriam fáceis de torcer, como demonstraram alguns anos mais tarde (em história, oitenta anos passam-se num ápice e, apesar de parecerem uma eternidade para quem os vive, vistos assim à distância, não parecem mais do que uns meros dias passados a correr) quando a Independência foi restaurada.

E, pelo caminho lá foram infernizando a cabeça de uns quantos holandeses que queriam tomar pela força o que não era deles, mas que eles queriam, à força, que fosse deles!

E os tugas, iberizados ou não, não deixaram(imaginam o Brasil a falar neerlandês, aquela língua que ninguém entende, nem os próprios?) que os arrogantes holandeses se apoderassem dos seus territórios além-mar, que tanto tinham custado, em sabedoria e espírito de aventura!

Pois bem, voltando ao adágio e à juncção com o vinho verde: “putas e vinho verde” é uma expressão bem portuguesa e que se diz de alguém que gosta do ócio e do bem-estar, conjugando uma boa companhia ao prazer de um néctar só existente nas partes mais setentrionais do continente europeu.

Não nos podem levar a mal, ninguém nos pode levar a mal por associar o prazer do ócio ao prazer de uma boa companhia e de um bom copo de vinho, verde, fresco e refrescante, como só cá os tugas o sabem fazer.

Quem não aceita estes pequenos prazeres de convivência, não sabe o que é a vida vivida na sua plenitude! Ou não gosta destes pequenos prazeres de convivência, e prefere, quem sabe, outras convivências, menos inter-géneros e mais com outros tipos de bebidas mais destiladas, daquelas que provocam uma bebedeira mais rápida e mais efectiva, como eventualmente teria o Sr. Dijsselbloem

(não disse que era uma língua complicada? Quem é que tem um nome destes, por amor de Deus?)

quando discorreu acerca dos hábitos tugas de ocuparem os seus tempos de ócio com putas e vinho verde!

Não gosta, não compra, mas não estraga!

Tenho cá para mim que o Sr. Dijsselbloem (que raio de nome mais difícil tem o Sr Dijsselbloem)

estava a vingar-se das tareias que os neerlandeses levaram dos portugueses há uns séculos

(holandeses, neerlandeses, países-baixenses, enfim, organizem-se, que por cá somos portugueses há bem mais de oito séculos).

Nem o dito senhor de nome impronunciável merece o tempo que têm (temos) andado a perder com a sua estupidez.

Adiante. Os chapéus.

Os chapéus, nossos ou dos outros, servem para, além de cobrir a careca, cumprimentar, num gesto de boa educação, que por vezes faz com que se descubra a dita cuja.

Cumprimentarmos com o nosso, traduz com já referi, boa educação e respeito por quem cumprimentamos. Mas, como sabemos estes são valores que de alguma forma se vão perdendo, ou alterando com o passar dos tempos e, tal como a metáfora das “putas e vinho verde”, também se utiliza uma outra para nos referirmos a essa falta de valores de boa-educação: “cumprimentar com o chapéu alheio”, que é como quem diz – a ideia até não é minha, mas aproveito-a para proveito próprio, sem referir quem a trabalhou. Dá menos trabalho e pode dar algum protagonismo, configurando, de alguma forma um tipo de ócio ou preguiça quiçá apodável de “putas e vinho verde”.

As ideias, os feitos, os esforços para desenvolvê-los têm de ter, devem ter, o nome de quem os trabalhou, de quem porfiou para que se vissem desenvolvidos. E, fazem-no muitas vezes de uma forma desinteressada, sem se preocuparem, porque preocupados pelo seu desenvolvimento, com reconhecimentos que poderiam advir do seu porfiar, deixando assim caminho aberto para outros que, ociando com vinho verde, utilizem esses esforços em proveito próprio, fazendo-se desta forma serem cumprimentados e corresponder ao cumprimento com o chapéu que outros confecionaram: cumprimentar com o chapéu alheio!

Cumprimentar com o chapéu dos outros passou a ser infelizmente uma prática vista em tantas áreas da nossa vida comum que já poucos se preocupam quando a ideia, o esforço de uns serve para, eventualmente, homenagear outros, ou até para homenagear-se a si próprio.