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Descarregar e/ou espoldar

A chegada do outono traz novas tarefas nos poios. Depois da vindima, que este ano até foi farta e mais ou menos atribulada para determinadas castas, é já altura de se começar a preparar a próxima.

Desde o início do mês que os viticultores já começaram a dar outra utilização ao podão. Agora, em vez de cortar os cachos, servem para cortar as parreiras brancas e aquelas que, à partida, não vão produzir no próximo ano. É o que chamam de espoldar ou descarregar a vinha. Dizem que este procedimento tem dois objectivos principais: facilitar a poda a efetuar no início do ano e possibilitar a plantação de semilhas do cedo debaixo das latadas, embora hoje em dia já seja raro isso acontecer.

Tal como as tarefas nos campos o tema das conversas também muda. Pelos lados de São Vicente, só se falava de negra mole ou de tinta negra. Houve tanta que até o governo comprou para ajudar aos agricultores.

Mas há quem não esteja de acordo com este procedimento. No grupo do serrote, quando alguém diz que isso foi por causa das eleições, o Pacheco da Ribeira Funda levanta a voz e diz:

- Então se o governo compra as uvas também devia comprar as ameixas. Tive mais de uma tonelada que se perdeu! O meu voto vale tanto como o dos outros.

- Tens razão. - diz o Paulo da Santa - E devia fazer o mesmo com as semilhas e cenouras.

- Pois é! - interrompe o José do Pico - Eu cá não tenho vinha, mas oiço dizer que, no ano passado, o governo mandou os técnicos para ensinar os agricultores a podar a vinha mais curta e dizem que a maioria não fez caso....

- Pudera - interrompe o Pacheco -, se as casas não compram, mas ele compra quase ao mesmo preço e sem grau... Se eu tivesse vinha também fazia o mesmo.