Crónicas

O Farsolas

1. Livro: Em 1994, Eric Hobsbawm escreveu “Era dos Extremos”. Foi o livro que me acompanhou, nos poucos tempos livres, da campanha das Europeias. Escrito ainda no rescaldo da Guerra Fria, discorre sobre a história europeia entre 1914 e 1991. Uma maneira um pouco diferente de ver a história numa perspectiva que não rejeita a componente cultural onde, em muitas coisas, nos revemos.

2. O farsolas é um espertalhaço. Tem-se em tão boa conta que pensa que não há nada, nem ninguém, que se lhe iguale. Nem outro farsolas.

O farsolas tem sempre um objectivo: o próprio farsolas. Para o atingir, recorre a tudo. Não há nada que se lhe atravesse no caminho que o impeça de chegar ao cume do “farsolismo”. Mente, engana, distrai, defrauda, embrulha, engoda, engrupa, falseia, burla, finge, ilude, intruja, finta, ludibria, trai. Promete tudo a todos e depois tem sempre a desculpa, na ponta da língua, para o não cumprir. É o habilidoso que sabe sempre dizer aquilo que o seu interlocutor quer ouvir.

O farsolas é um criador de mitos. O seu mito, que lhe começa no umbigo e acaba no mesmo sítio. Julga que consegue enganar todas as pessoas o tempo todo. O farsolas quando se vê ao espelho pensa que se duplica. É ele e a falsidade que cria nas redes sociais com perfis falsos, mais fáceis de desmontar que um brinquedo de criança.

O farsolas vai tão longe que inventa profissões, e locais de trabalho, e consegue no mais recôndito do mundo encontrar umas trombas para apor na falsificação.

O farsolas julga que todos nós, os outros, somos uns tontos. É por isso que não se precavê, que não se acautela. É por isso que chega sempre o momento em que se agacha e se lhe vê o rego.

O farsolas é o eucalipto da vida. Seca tudo o que há à sua volta para que medre na porcaria que cria.

O farsolas é um manipulador. Tem língua bífida e consegue dizer com um lado dela o que nega do outro. Tem-se em muito boa conta. Sabe cinco palavras, uma definição e acha que com isso consegue encher o mundo de brilhantismo. Um dia leu um, mau, livro sobre um assunto e ficou especialista nas duas ou três ideias aí defendidas. Diz sempre a mesma coisa fale de alhos ou de bugalhos.

Mas sosseguem meus amigos, porque no final, o farsolas, tem sempre aquilo que merece!

3. Vai bonita a procissão do Ferry. 3 milhões foi o que todos pagamos para ter a sua operação garantida, durante 4 meses, no ano transacto. O operador veio dizer que teve um prejuízo de 1,9 milhões de euros, e agora o JPP divulgou uns documentos da Autoridade da Mobilidade e Transportes, o regulador, onde se diz, dizem, “que os 3 milhões de indemnizações compensatórias permitiriam que um operador marítimo fizesse a ligação ferry, entre a Madeira e Portimão, semanalmente, durante todo o ano, num total de 104 viagens (52 em cada sentido), com um lucro justo”, cito. É o regulador quem o diz e se o regulador não sabe fazer as contas, quem saberá? Somemos a isto tudo a espécie de recusa, de ambos os governos (Regional e Central), em divulgar toda a documentação sobre o assunto e aqui ficamos com mais uma “nebulosa” da política, que tão bem faz à sua credibilização, quando o que se exige é transparência.

Aguardemos que, quem de direito, explique tudo isto muito bem explicado...

4. Aquela coisa que a esquerda tem de que uns decidam por todos. Aquela superioridade moral sem sentido que os auto coloca em patamares de suprema sabedoria que prevalece sobre nós, os ignaros, os que nada sabemos.

Decidir, por decreto, tudo sobre todos. Em nome de algo que só eles entendem. Em nome de um colectivo desrespeitador da individualidade e das idiossincrasias de cada um.

Arre! Porra que já não há pachorra.

5. Carlos César não será candidato à Assembleia da República. O homem que não foi mais nada na vida, a não ser político, vai reformar-se.

Mas tenham calma, não se excitem muito, ele manda o filho, ou a prima, ou um sobrinho, ou a enteada, ou... ou...ou...

6. Uma tal de Bonifácio escreveu no público um artigo indescritível sobre raças e etnias, sobre pretos e ciganos, num arrazoado de asneiras, para mim, que arrepiam os ditos cujos de qualquer pessoa que tenha um mínimo de cultura. Falo disto para ilustrar o que tenho vindo a escrever sobre a liberdade de expressão. Obviamente que estou nos antípodas de tudo aquilo que, a dita historiadora, escreveu. Reconheço, isso sim, o direito a qualquer pessoa de dizer o que quiser e entender. A melhor maneira de combater estes neo-bárbaros é deixando-os falar e combatê-los pelo argumento. Se assim não for, as suas ideias continuarão a proliferar pela calada, até chegar o dia em que nada se poderá fazer para os derrotar.

7. Desafiou-me, há dias, um bom amigo do CDS, a comentar as duas últimas medidas apresentadas pelo seu partido. Fico-me por uma, porque a outra, com a qual estou de acordo, já é antiga. Vamos então ao IVA das empresas e a uma tal de conta-corrente fiscal para empresários. Admito que fiquei a olhar para a notícia que dava conta desta proposta uma data de tempo. Li-a três vezes e, ou não percebi, o que pode muito bem ter acontecido, ou fico com as seguintes dúvidas: então isto não é o que existe desde que o IVA entrou em vigor em Portugal? Saldar IVA dedutível com IVA a liquidar não é o que todas as empresas fazem mensal ou trimestralmente? Aceito que o sistema possa ser aprimorado, mas lá que é assim que funcional, é.

8. Toda a gente sabe que os custos dos transportes marítimos são um verdadeiro “fartar vilanagem”. Queixava-se Miguel de Sousa aqui há uns tempos de que para a exportação de cerveja da ECM, os custos eram quase incomportáveis. Problema resolvido. O IDE acaba de lançar um concurso no âmbito do Madeira 2020 que vai resolver o problema a contento de todos. Aos que exploram os portos, porque vai pagar o transporte e assim os preços podem continuar na hora da morte, à ECM porque passa a ter um “subsídiozinho” para a exportação.

E é assim que as coisas se resolvem, como dizia a publicidade de uma rede de supermercados, “sem cartões, nem complicações”.

9. Pelo PS, Carlos Pereira encabeça a lista às Legislativas. Isto é política. Sem fazer apreciações pessoais em relação à pessoa, aí está, ao fim de tanto tempo, uma decisão bem pensada por parte dos socialistas. Empurram um problema para longe e reconduzem alguém que deve ter algum crédito junto das estruturas nacionais, pois chegou a vice-presidente da bancada sem ser família de Carlos César.

10. “A proliferação de burocratas leva inevitavelmente a isto: maiores arrecadações de impostos sobre a parte produtiva da sociedade são os sinais reconhecíveis de uma sociedade, não grande, mas decadente. Os historiadores sabem que ambos os fenómenos foram especialmente notórios nas eras da queda do Império Romano do Ocidente como do seu sucessor, no Oriente, o Império Bizantino” - William Henry Chamberlin (1897-1969)