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Um orçamento com pouco de novo e muito do passado

A Madeira precisa de um novo modelo de desenvolvimento, que possa gerar maior igualdade de oportunidades

Os orçamentos da RAM têm sido sempre marcados por níveis de despesa superiores aos de investimento, e o ORAM 2020 não é exceção. Para um montante global de 1.743 milhões €, temos 1.278 milhões € de despesas de funcionamento, representando 73% do total. O investimento é de 465 milhões €, diminuindo em valor absoluto mas também em proporção do total (era de 537 milhões € em 2019).

Apesar de algumas medidas positivas, que só pecam por tardias, e são disso exemplo as progressões do pessoal docente ou o reforço de verbas para promoção turística, não se vislumbram medidas estruturantes ou uma alteração de políticas face ao passado recente. Temos um orçamento pouco ambicioso em matéria fiscal e que vem provar aquilo que os próprios relatórios e anexos ao documento referem. Senão vejamos, “Em 2017 e 2018, foi o sector do Alojamento e Restauração que impulsionou o emprego, enquanto nos trimestres mais recentes, a Construção e Administração Pública têm dado um contributo decisivo para o incremento da população empregada”. Perante a falta de planeamento estratégico e de medidas concretas para diversificação da nossa economia, voltamos à receita do passado: política do betão e engorda da administração pública. A Secretaria de Equipamentos e Infraestruturas leva a fatia de leão dos investimentos, com 256 milhões €, enquanto a engorda, pré e pós-eleitoral, da administração pública, justifica quase na totalidade o aumento de 20 milhões € das despesas com pessoal.

O PSD fala em responsabilidade, equilíbrio e continuidade, enquanto o CDS vai mais longe, e pasme-se, diz que este é o melhor orçamento dos últimos 5 anos. Curiosamente, duas das três Secretarias com menor orçamento são as tuteladas pelo CDS, o que reflete a (in)capacidade de influenciar as políticas do mesmo PSD de sempre. Para quem tanto lutou contra estas políticas, desprovidas de visão estratégica e sem vislumbre de uma verdadeira renovação, é caso para dizer, quem os viu e quem os vê. Para quem os anteriores 4 orçamentos foram maus, dizer que este é o melhor, não significa que seja bom. A conjuntura e dialética política geram este tipo de amnésias ou leituras, outrora impensáveis.

A Madeira precisa de um novo modelo de desenvolvimento, que possa gerar maior igualdade de oportunidades, maior distribuição equitativa de riqueza, maior inclusão social e mais coesão territorial. Um orçamento é sempre reflexo de um conjunto de opções políticas, e esta proposta de orçamento reflete precisamente isso: as mesmas opções e as mesmas políticas.

Inicia-se hoje o debate do orçamento na Assembleia Legislativa Regional. Contem com o PS para discutir opções e propor alterações, de forma séria, responsável e com elevação.