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Um Ano Novinho em Folha para Estragar

1. Foi-me oferecido no Natal e lido de um fôlego. “O Apelo da Tribo”, de Mário Vargas Llosa, é imprescindível para quem quer ter da política uma leitura aberta, culta e informada. Se, como liberal, li Marx e Lenine para entender e concluir que o socialismo, na minha opinião, não é o caminho, há falta de ler Smith, Ortega y Gasset, Hayek, Popper, Berlim, Aron e Revel, aos detractores do liberalismo que emprenham pelos ouvidos comprando ideias feitas, obriga-se a leitura deste livro. Vargas Llosa presta um serviço de grande qualidade, apresentando com clareza o pensamento destes sete importantes liberais da contemporaneidade. “O Apelo da Tribo” é quase uma biografia do liberalismo. Um livro a não perder.

2. Mesmo ao acabar o ano, saiu mais uma colectânea com uma série de remixes e “live versions” dos Pink Floyd mais virada para a produção da banda, nos últimos anos. Trata-se de uma box em formato quádruplo com muito o que ouvir, de “Learning to Fly” a “Shine on you Crazy Diamond”, passando por “Us and Them”. Dá pelo nome de “The Late Years” e é Pink Floyd.

3. Ora aqui estamos em 2020. Um ano inteirinho para estragar. Já estou numa idade em que me contento com que se estraguem os anos devagarinho. Não sou exigente nem peço que me desejem bom ano. Basta que me os desejem “quanto baste”.

Escrevo estas linhas no dia 3 e já foi tanta a porcaria que prefiro a calma das séries policiais que a Netflix oferece. Ataque à Embaixada Americana em Bagdad. Morte do General iraniano Qasem Soleimani, um dos homens mais poderosos da Pérsia. Inundações na Indonésia fazem 43 mortos. Na Venezuela e em Cuba continua o comunismo cucaracha de Maduro e Díaz-Canel. Fogos continuam a devastar a Austrália. Morreu Norberto Barroca. Carlos Mineiro Aires, bastonário dos Engenheiros, anuncia que se morre de frio em Portugal. Os costumeiros aumentos de preços. O fogo de fim de ano que não trouxe nada de novo. Os artigos de Cafôfo que ainda pensa que está em campanha eleitoral. Os desabafos do secretário-geral do PSD Madeira, que manda sms’s a ex-militantes para que estes paguem quotas em atraso e, dos quais, ninguém quer saber. E como uma desgraça nunca vem só, os Delfins regressam aos palcos em 2020.

4. Era de bom-tom que agora deixasse aqui umas linhas com uma espécie de balanço do ano que passou. Mas, francamente, nem vocês querem saber disso, nem eu tenho muita pachorra. Foi mais um ano, com a única diferença de ter sido cheio de eleições. Ganharam os do costume e a alternativa era mais do mesmo. Foi assim que escolheram e está escolhido. E bico.

5. O que eu gostava, mas gostava mesmo, que 2020 trouxesse, era o reconhecimento prático da importância que as PME’s têm no nosso tecido empresarial. Que em vez de operações de cosmética, de baixar de 13 para 12% o IRC nos primeiros 15 mil euros, se tivesse a coragem de isentar este plafond do pagamento de imposto.

Que fosse um ano do compromisso com essas empresas, reconhecendo-as como elemento fundamental do nosso tecido económico, pois significam emprego, opção de escolha, livre concorrência e mercado livre e menor risco social a naturais fracassos. Tudo isto factores propiciadores de melhores padrões de vida e de contribuição real, na construção de comunidades mais vibrantes, por via das interligações propiciadoras de gerar riqueza. É só um desejo.

Para isto bastava uma mão-cheia de coisas que passassem das boas intenções: baixar impostos e descomplicar financiamentos; formação para empresários e trabalhadores; concursos públicos transparentes e eficientes; pagamentos, por parte do Estado, a tempo e horas; desburocratização; energia acessível e sustentável; colaboração no salto para a economia digital; fiscalização eficaz, de modo a assegurar que os grandes não abusam dos pequenos; resolução rápida de divergências fiscais; aplicação do princípio do IVA de caixa; etc. Tudo coisas que facilitariam a vida e o investimento, de modo a que se gerasse mais emprego, reduzindo assim a necessidade de intervenção do Estado no assegurar dignidade e qualidade de vida a todos.

6. Assim de repente, o actual governo da Madeira fez-me lembrar a história do Pinóquio. O PSD é assim a modos que um Grilo Falante que não se cala e o CDS está igualzinho ao Pinóquio: cada vez que fala cresce-lhe o nariz. Se um gajo se lhe sentar na ponta deve conseguir ir de ferry até Lisboa.

7. Por falar em Pinóquio, atentem só à substituição de Mário Pereira (CDS), no Parlamento Regional. Cito a edição de sábado deste Diário: “Para garantir que Mário Pereira poderia ser afastado, quando isso fosse conveniente politicamente, o CDS fez Rui Barreto tomar posse como deputado, mesmo sabendo que ele ia para o Governo. Ao mesmo tempo, Ana Cristina Monteiro suspendeu o mandato e Mário Pereira tomou posse em substituição desta. Logo de seguida, Rui Barreto suspendeu o mandato e é substituído por Lopes da Fonseca (seria por Mário Pereira se Ana Monteiro não tivesse suspendido). Assim, Lopes da Fonseca, que estava na lista depois de Mário Pereira, só sai se Rui Barreto voltar à ALM”. Perceberam? Clarinho como a mais pura das águas.

Toda esta giga-joga serve para afastar o quadro centrista mais qualificado, no que à saúde diz respeito, mas não só. Se já estranhou que este partido não tenha promovido Mário Pereira a funções governamentais, agora fica tudo mais claro. Como se não fossem suficientes os escritos do médico nestas páginas. O PPD-CDSD não pode correr o risco de perder um voto que seja nas votações do Orçamento Regional, sob pena de este não passar. E Mário Pereira não me quer parecer que seja mais um José Manuel Rodrigues.

8. Saúdo a chegada, às crónicas destas páginas, do Pedro Fontes, do João Paulo Marques e da Elisa Seixas. Até Março outros virão. Concordando ou não com os conteúdos, tenho a certeza da qualidade da escrita. Abraço meus caros e minha cara (tenho a certeza de que a Elisa não me perdoaria se assim não me referisse a ela).

9. Salvo qualquer imprevisto que me leve a acertar nos números do Euromilhões, ou coisa afim, quando morrer vou deixar às minhas filhas uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, mas por favor escrevam-me no epitáfio: “morreu teso, mas feliz!!!!!!!!!” (assim mesmo, cheio de exclamações). Sou dos que têm a certeza que, nas portas do céu (e bem que o mereço), as malas de dinheiro não passam.

10. “Eu sou um liberal. A esquerda tentou converter esta palavra num palavrão, num insulto, mas ela tem a sua origem na palavra ‘liberdade’ – a mais bela palavra de qualquer idioma, pois por ela chegaram as grandes conquistas: a tolerância, os direitos humanos, a divisão de poderes, o pluralismo político. Todas as grandes conquistas da civilização têm a sua origem no progresso da liberdade. O importante do pensamento liberal é que não se trata de um pensamento dogmático, não é fanático e aceita a possibilidade de equivocar-se, de estar errado — e, portanto, está permanentemente a se corrigir e a fazer a tão necessária e autocrítica” — Mario Vargas Llosa