Artigos

“Não brinquem com o nosso dinheiro”

Os eleitores quando votam num projeto político, com base num determinado programa eleitoral, e nele apostam não estão a assinar um cheque em branco para que, quem governa, use e abuse dos dinheiros públicos, que devem ser utilizados de forma criteriosa, racional e transparente.

Não aceito que os cidadãos cumpridores exerçam o seu dever contribuindo com os seus impostos e obrigações, na ótica de um Estado solidário, e depois se vejam usurpados ou desrespeitados pela utilização leviana do dinheiro público. Não aceito que os nossos impostos sejam desbaratados em ofertas, prémios, convívios, comezainas, sem qualquer critério lógico, a não ser para o fim a que se destina: manter as pessoas de mão estendida, numa postura de gratidão e sentindo-se com a obrigação moral de votar no partido que distribui tamanha “generosidade”. O objetivo pode não ser alcançado, mas é o princípio que conta e está errado.

Não aceito, nem compreendo, que a complexidade do sistema público implique tanta assessoria jurídica e técnica e tanta chefia, a ponto de exigir mais do orçamento do que os próprios serviços prestados aos utentes e cidadãos. Não admito que se distribuam apoios, sem garantias de resultados e qualidade validada por falta de supervisionamento e acompanhamento, da parte do Governo. Condeno os favorecimentos perniciosos, o aproveitamento da fragilidade de quem precisa e o abuso de poder.

Pelo contrário, gostaria de saber que os impostos que pago revertem para fins legítimos, com o objetivo do retorno económico e social; que as pessoas não dependem desta ou daquela benesse esporádica, mas sim do seu vencimento ou pensão, justos e consistentes; gostaria que as famílias não tivessem de optar entre pagar uma renda ou prestação e pôr um filho a estudar; ou que um cidadão não tivesse de recorrer a serviços de saúde privados por falta da resposta pública.

Consciente de que uma Região justa e igualitária é quase uma utopia, certo é que é possível almejar um sistema mais liberto de vícios e interesses lesivos do interesse público. Assim funcione a Democracia.