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Maioria absoluta?

O pobre tem direito a tudo porque é pobre. O rico tem direito a tudo porque tem muito dinheiro

Ao fim de 44 anos de vivência pseudo-democrático na Madeira, sempre sob a égide do mesmo partido, parece consensual que segundo os madeirenses, assim como as diversas forças partidárias, não deve haver maiorias absolutas para nenhum dos partidos concorrentes. Ora bem, este consenso deveria ter existido a partir de 16 de Março de 1978, quando A.J.Jardim substituiu o Engº Ornelas Camacho na presidência do Governo Regional, para usar e abusar das sucessivas maiorias absolutas que os madeirenses lhe conferiram. A partir de então a Madeira foi sempre governada sob um poder autocrático onde os partidos de oposição eram achincalhados e marginalizados politicamente e nem o órgão máximo de poder, a ALM, era respeitado sendo até classificada de “casa de loucos. Aí sim, as sucessivas maiorias absolutas deveriam ter dado lugar a maiorias relativas para evitar os abusos de poder durante 43 anos. Reparem, caros leitores, que essas nem se quedavam por maiorias absolutas mas absolutíssimas visto que o Governo mandava nas Câmaras Municipais, nas Juntas de Freguesia, nas Casas do Povo nos organismos desportivos e até na Igreja, uma vez que ao dar dinheiro para (re)construção das mesmas era uma forma de exigir retribuição através do voto na “setinha” virada para o céu. Todas as 260 mil almas desta pequena ilha testemunharam uma partidocracia, emanada do gabinete “supremo” da Quinta Vigia. Será, pois, que os madeirenses acordaram de uma longa letargia e compreenderam, finalmente, que o poder absoluto corrompe e prejudica quando é mal usado?

Atente-se nesse poder absoluto que até as eleições autárquicas de 2013 nunca se ouviu uma voz discordante do Governo para com as Câmaras Municipais ou vice versa, mesmo sabendo da má gestão (dívidas) de ambos os lados. Pois, a partir de 2013 o Governo Regional, mesmo com conhecimento do bom trabalho executivo/legislativo, das Câmaras e Juntas, entrou em conflito permanente com aquelas que fugiram ao seu controlo absoluto, apenas porque o povo madeirense resolveu experimentar a governação de outras forças partidárias. Omiti, propositadamente, as Casas do Povo já que essas, desde sempre, estiveram e continuam sob o controlo da Quinta Vigia com a agravante de se multiplicarem onde o tal poder do psd-m, perdeu as Juntas de Freguesia. Este psd-m já demonstrou que não consegue viver sem conflitos, para esconder os seus fracassos: Eram os partidos da oposição que não deixavam governar, era o representante da República que se tornara um obstáculo à autonomia, era Lisboa que, mesmo a pagar as nossas dívidas, era responsável por tudo o que de mal acontecia, foi a trapalhada da mobilidade que agora Lisboa teve quer resolver e, desde 2013, são os conflitos constantes com as sete Câmaras que o psd-m perdeu. Enfim... foi esse abuso de poder que A.J.Jardim, começou e M. Albuquerque se prepara para continuar com o quero, mando e posso, como o caso da estrada das Ginjas e a pilhagem nos leitos das ribeiras à medida dos amigos do poder.

Há uma máxima popular: “gato escaldado, da água fria tem medo” e talvez porque os madeirenses estejam escaldados, querem acabar com as maiorias absolutas, mas estas até seriam um mal menor se os eleitos forem pessoas verdadeiramente democráticas. Seria, talvez, preferível a esta onda de aventureiros da política, como os pardais e outros que tais, que cavalgam no dorso dos partidos para obter dividendos pessoais, mesmo à custa de convulsões sociais e da ruína do país. Tudo vale para atingirem o necessário protagonismo que os leve ao tacho.

Termino, manifestando uma preocupação que grassa no espírito dos madeirenses responsáveis: O GR já adjudicou 72 milhões de euros, em obras, nos primeiros 6 meses deste ano, além de uma onda de apoios, ajudas, donativos e subsídios indiscriminados apenas visando eleições. Merecidos ou não, a verdade é que tudo é permitido em ano de eleições passando a efémera ilusão que; O pobre tem direito a tudo porque é pobre. O rico tem direito a tudo porque tem muito dinheiro. O remediado apenas tem direito a trabalhar para sustentar o rico e o pobre. Bem diz o povo que todos os anos deveria haver eleições, mas atenção porque depois de outubro muitas “torneiras” secarão! Depois? Depois... quem vier atrás que arrume a casa e feche a porta mesmo que seja necessário um novo PAEF ou voltar a brigar com Lisboa para pagar a nossa dívida.