A venda do Jacintinho
As vendas não eram apenas vendas, eram o centro de vida de cada sítio
Na antiga merceariatudo ali se vendia,a gente se encontrava
e a vida acontecia.
Jacintinho era o vendeiro
com sorriso atendia,
Rosinha sua mulher
de tanta igual simpatia.
Os clientes são família
assim todos se tratavam,
os infortúnios da vida
com eles desabafavam.
Ali se comprava a massa,
que o Jacintinho fiava,
pra pagar no fim do mês
quando algum tostão sobrava.
Também se comprava o milho
pra com charros se almoçar,
da venda tudo se leva,
até conselhos para dar.
Deixam a conversa em dia,
o dia fora é combinado,
lá vai um copo de vinho
o contrato é fechado.
Até aos desconhecidos
o Jacintinho fiava,
assim não enriquecia,
mas a alma rica ficava.
Domingo depois da missa
a paragem obrigava,
um copinho de licor
a fé mais consolidava.
Jogavam ali às cartas
na tampa de um bidão,
continuam pela noite
à luz de um lampião.
Enquanto o vinho esvaziava
a alegria muito crescia,
mulher chama pelo marido
que em casa não aparecia.
No dia em que foi pra guerra
o Norberto ali entrou:
“É o último copo de vinho”,
o destino assim confirmou.
“Que Deus te traga de volta”
sua mãe muito rezava,
na rua ela aguardava,
lágrima não enxugava.
Do sítio da Porta Nova
lá fora bem recordavam,
uns partem e outros regressam,
pla venda todos passavam.
O Jacintinho morreu
mas a venda não fechou,
recordação d’antigamente,
a venda alma recuperou.