Análise

Tudo em aberto

Que jeitão dá (A Albuquerque) ter o socialista António Costa no comando do país

O tempo é político. Demasiado político. Até 6 de Outubro vai ser um fartote de comícios, acções de rua, muito ‘porta-a-porta’ e muita propaganda na estrada e nas redes sociais. O regresso à normalidade e às férias chegam depois. Até lá e para os que se sentem cada vez mais traídos pela classe que nos representa há, em segundo plano, futebol, muito futebol e comentadores em doses industriais para nos entreterem ao serão. Valha-nos isso.

As Regionais são daqui a três semanas. O povo vai ser chamado a escolher os deputados à Assembleia Legislativa e, indirectamente, o presidente do Governo Regional. Até agora tudo decorre sem surpresas. As máquinas partidárias esfalfam-se na rua, os dirigentes não perdem um arraial e as promessas são às dúzias, debitadas diariamente em diversos palcos. Criatividade não lhes falta. Saberá o cidadão que propostas defendem cada um dos concorrentes? Sem surpresas os principais actores da praça já definiram o caminho para convencerem os eleitores. Miguel Albuquerque repescou a velha táctica do ataque a Lisboa e ao primeiro-ministro em funções. Que jeitão lhe dá ter o socialista António Costa no comando do país. Fosse o amigo Passos Coelho e teria grandes problemas em justificar a escolha do ‘inimigo externo’. O presidente que pede uma “maioria confortável” porque a palavra ‘absoluta’ “dá um ar que parece que queremos mandar nisto tudo”, tenta a tudo o custo menosprezar o seu adversário directo, Paulo Cafôfo. Deixou isso bem claro na entrevista concedida ao DIÁRIO na passada sexta-feira. Diante a bipolarização evidente da campanha, Albuquerque foge ao confronto e foca-se nas malfeitorias do governo central que “quer controlar a Região”. Chegará? Diz que cumpriu o que prometeu e que a maior dor de cabeça da sua governação, a saúde, foi orquestrada, mas que funciona “muito bem”. Convencerá os que dela precisam e os que não conseguem a assistência devida a tempo e horas? É arriscado, no mínimo, o PSD insistir nesta tecla. Vejamos.

É contra a narrativa social-democrata que Cafôfo guia a sua acção, debitando propostas e apoio na ‘raiz do mal’ invocada por Albuquerque. Solidariedade nacional não lhe tem faltado, numa atitude sem precedentes em relação à Madeira. António Costa e a sua “obsessão” pela Região fez com que promovesse, pela primeira vez na história do partido, uma rentrée nacional em Machico. E faz com que o candidato acene já com um conjunto de medidas ‘abençoadas’ pelo Largo do Rato. Os eleitores, desconfiados e com razões de sobra para isso, olham de esguelha para os compromissos assumidos em plena campanha eleitoral, mas é um sinal forte que o PS transmite. Será suficiente para permitir o que muitos dizem ser a vontade de mudança? No tabuleiro dos cenários entra o CDS, ansioso por fazer parte da governação, independentemente do partido que vença a 22 de Setembro. Após semanas titubeantes, os centristas não conseguem esconder mais a ambição. Elegerão deputados para isso? Ou o Bloco de Esquerda e o JPP vão também ter uma palavra a dizer? Está tudo em aberto e as próximas semanas vão ser decisivas, na certeza de que o que interessa ao eleitorado é a resolução dos problemas, que são reais, concretos e sobejamente conhecidos. Por uma autonomia mais amadurecida e respeitada. Saibam os partidos entendê-los e levá-los a sério depois da noite eleitoral e que não sucumbam ao milenar vício de, em primeiro lugar, pejar a administração de quadros e simpatizantes partidários.