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Religiosas pedem em Roma que a Igreja as ouça e que possam votar no Sínodo dos Bispos

Teresa Forcades foi a porta-voz do grupo.  Foto AFP
Teresa Forcades foi a porta-voz do grupo. Foto AFP

Religiosas de vários países pediram hoje, em Roma, que a Igreja as oiça e as trate como iguais, permitindo que votem no Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia, que se realiza no Vaticano de 06 a 27 de outubro.

“Por que um homem que não é bispo ou padre pode votar e não há nenhuma mulher que possa votar? Não só concordo [com essa pergunta], como parece de bom senso concordar”, disse hoje à agência espanhola Efe a freira catalã Teresa Forcades.

Esta freira e outras da Europa, América e África pediram hoje, num evento organizado pela associação internacional de mulheres católicas Vozes de Fé, que a Igreja não as silencie.

O protesto surge a quatro dias do início do Sínodo na Amazónia, convocado pelo Papa Francisco e no qual participam bispos e religiosos, especialistas, leigos e consagrados que trabalham na Amazónia, assim como alguns convidados especiais, embora nem todos tenham o direito de votar.

Ao todo participam 35 mulheres - duas convidadas especiais, quatro especialistas (duas são religiosas) e 29 auditores, das quais 18 são freiras, no entanto nenhuma pode votar.

Freiras dos Estados Unidos, Suécia, Senegal e Alemanha apresentaram hoje o seu desacordo com esta decisão num evento dentro da majestosa Biblioteca Roman Vallicelliana.

A freira catalã Teresa Forcades reconheceu à agência Efe que o Papa Francisco mudou “a atmosfera da Igreja” desde o início de seu pontificado em 2013 e disse que dar maior destaque às mulheres não seria “um passo oposto, mas uma continuação” das suas ações”.

“Este Papa é caracterizado pela luta contra a injustiça social, (...) os interesses das grandes corporações” e a gestão da migração na Europa.

É por isso que, justificou, as necessidades das mulheres devem ser prioritárias e não adiadas, como quando nos anos 70 os homens disseram ‘primeiro faremos a revolução e depois falaremos sobre as mulheres’ “.

A freira americana Simone Campbell defendeu a inclusão e deixou claro que “o silêncio” das freiras na Igreja “não é uma opção”.

“Nós, as freiras, temos que fazer com que os líderes da Igreja tenham uma visão diferente (...) Temos a obrigação de elevar a voz. Como é que as freiras não podem ter voz ou votar no Sínodo?”, perguntou.

Já a freira sueca Madeleine Fredell criticou que “na Igreja existam abusos de todos os tipos, sexuais, económicos, de poder” e também “de silêncio para as mulheres”.

“Não temos permissão para compartilhar as nossas interpretações de fé, somos silenciados... Não imploramos por poder, o poder sempre corrompe, apenas pedimos para ser respeitados”, disse.

O evento contou com a presença do bispo suíço Félix Gmür, que disse que “é importante que essas preocupações [das mulheres] sejam estudadas ao nível teológico”.

O secretário-geral do Sínodo, Cardeal Lorenzo Baldisseri, referiu-se a esta questão do voto das mulheres no Sínodo durante a conferência de imprensa da apresentação e limitou-se a citar os regulamentos da assembleia que limitam o voto apenas aos bispos e quem autoriza excecionalmente o Papa.