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Reino Unido quer virar a página e construir relação positiva e ambiciosa com UE

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O Reino Unido quer deixar para trás o azedume do processo de divórcio da União Europeia e construir uma relação “forte, positiva e ambiciosa” com os 27, garante o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dominic Raab.

Nesta quarta-feira, num encontro com jornalistas estrangeiros, Raab disse que o governo britânico quer “virar a página” e vai abordar a segunda fase das negociações do ‘Brexit’ como “uma oportunidade para demonstrar” que o Reino Unido e a União Europeia podem “ser ainda melhores vizinhos, aliados e amigos”.

Como exemplo do esforço de cooperação, lembrou as posições comuns tomadas pelo Reino Unido juntamente com a Alemanha e França sobre o Irão e sobre a situação no Mar da China, ou com ou França e Itália relativamente à Líbia.

“Estamos empenhados em reforçar essa relação e não permitir que desvaneça”, vincou.

Porém, não excluiu a possibilidade de divergências durante as negociações sobre a futura relação comercial com a UE, cujas negociações, oficialmente, só deverão começar em março, e cujos termos ficaram definidos na declaração política que acompanha o Acordo de Saída negociado pelo primeiro-ministro, Boris Johnson.

Em vez de uma “zona de comércio livre”, antes proposta pela antecessora Theresa May, ficou decidido que as duas partes pretendem negociar um “acordo de comércio livre abrangente, com tarifas zero, acompanhado por uma parceria ampla e ambiciosa de segurança e cooperação em áreas como a investigação [científica]”.

Johnson disse recentemente que deseja um acordo de livre comércio que abranja bens e serviços e cooperação em outras áreas, mas a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, explicou que, sem aderir à liberdade de circulação de pessoas e sem estar alinhado com as leis ambientais, laborais, fiscais e sobre ajudas estatais, não será possível ao Reino Unido o acesso ao mercado único que permite a circulação de capitais, bens e serviços.

“Quanto mais divergência houver, mais distante será a parceria”, justificou.

Organizações da indústria alimentar e do setor automóvel mostraram preocupação com o risco de estas divergências resultarem em “atritos”, ou seja, mais controlos e trâmites burocráticos que tornem a circulação de mercadorias mais demorada e onerosa.

“Johnson está menos preocupado com as metas a curto prazo da indústria e mais preocupado em garantir autonomia sobre a regulamentação do Reino Unido no futuro. Isso aplica-se tanto aos EUA como à UE. Portanto, embora possa haver espaço para um acordo, ele vai ter cuidado para não limitar a margem de manobra de futuros ministros”, afirmou à Lusa Alex Dawson, um antigo assessor dos ex-primeiros-ministros conservadores Theresa May e David Cameron.

As suas credenciais como advogado do ‘Brexit’ e o papel na vitória eleitoral com maioria parlamentar tornam o atual primeiro-ministro mais imune a revoltas dentro do partido, mas vai ter continuar a ouvir os eurocéticos do European Research Group (ERG), afirma Dawson, que é especialista em política no instituto Global Counsel.

“Boris Johnson preocupou-se em cortejar o ERG quando estava a concorrer à liderança [do Partido Conservador]. Portanto, calculo que o governo tenha cuidado em mantê-los por perto em relação ao acordo de comércio livre da UE que Johnson deseja concordar”, acrescentou.

O próprio Boris Johnson deverá tornar mais claro as orientações que pretende dar à sua negociação num discurso esperado na próxima semana.

Quando à oposição, estima-se que o Partido Trabalhista tem primeiro de escolher um novo líder e de decidir qual vai ser a sua posição relativa à UE agora que o ‘Brexit’ vai ser consumado.

“Se conseguir juntar isso às táticas tradicionais da oposição de aplicar escrutínio ao governo e aumentar a pressão, pode ter algum impacto”, admitiu.