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Oposição do Sudão tenta adiar assinatura de acordo de paz com os militares

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O movimento pró-democracia do Sudão está a tentar adiar a assinatura da segunda e possivelmente a mais contenciosa parte de um acordo de divisão de poder com os militares do país, foi hoje divulgado.

De acordo com a agência noticiosa Associated Press(AP), o movimento pró-democracia referiu que precisa de mais tempo para resolver as diferenças entre os seus membros.

A primeira parte do acordo, que foi assinada na quarta-feira em Cartum, capital do Sudão, representa uma cedência de uma das principais reivindicações dos manifestantes, que exigiam uma passagem imediata do poder para os civis.

O documento assinado pretende estabelecer um conselho soberano conjunto entre civis e militares e que deverá governar o Sudão durante cerca de três anos, até às próximas eleições.

Este conselho soberano de 11 membros seria encabeçado por um militar nos primeiros 21 meses e por um líder civil nos 18 meses seguintes.

Em abril, as forças armadas do país destituíram o Presidente, Omar Al-Bashir.

Segundo a AP, espera-se que os dois lados se encontrem hoje, negociem e assinem oficialmente a chamada declaração constitucional que define o tempo que cada um estaria no poder até a realização das eleições.

Alguns líderes do movimento pró-democracia viajaram para a Etiópia hoje para se encontrarem com líderes da Frente Revolucionária, uma aliança de grupos rebeldes que também são membros da coligação pró-democracia. A Frente Revolucionária rejeitou o acordo fechado com os militares argumentando que não conseguiu atender os seus apelos pela paz.

Citado pela AP, Ahmed Rabie, líder das Forças da Declaração de Liberdade e Mudança, uma coligação que inclui profissionais independentes, sindicatos, partidos políticos tradicionais e outros grupos que representam os manifestantes, disse: “Vamos tentar entender o ponto de vista deles”.

“A Frente Revolucionária esteve presente em todas as negociações desde o início. Os seus representantes só saíram nas duas últimas sessões”, acrescentou Ahmed Rabie.

A Frente Revolucionária inclui grupos rebeldes de Darfur, bem como os estados do Nilo Azul e Kordofan do Sul.

A editora do jornal on-line sudanês Altaghyeer, Rasha Awad, disse que a transição para a democracia depende da conquista da paz com esses grupos armados.

“A falta de paz sempre justifica o papel exagerado dos órgãos militares e de segurança, bem como a eliminação das liberdades civis”, disse Awad.

Rasha Awad refere que ao longo da história do Sudão, todas as tentativas de governo democrático foram abandonadas porque não foram precedidas pela conquista da paz.

O Governo do Sudão travou uma guerra de décadas entre a maioria cristã e muçulmana no Sudão do Sul que durou até 2011, ano em que o Sudão do Sul tornou-se independente.

De acordo com a Associated Press, quando uma insurgência eclodiu na província de Darfur, em 2003, al-Bashir mobilizou milícias árabes conhecidas como os Janjaweed, que realizaram uma onda de atrocidades contra grupos étnicos locais.

O Tribunal Penal Internacional emitiu dois mandados de detenção contra al-Bashir por genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade.