Manifestantes pró-Maduro protestam em Caracas contra relatório da Alta Comissária da ONU
Milhares de apoiantes do presidente Nicolas Maduro manifestaram-se hoje em Caracas para protestar contra o relatório da Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que denunciou a “erosão do Estado de Direito” na Venezuela.
A ex-presidente do Chile visitou a Venezuela entre 19 e 21 de junho e divulgou um relatório denunciando os abusos cometidos neste país em crise, incluindo relatos de milhares de pessoas mortas pelas forças de segurança.
“O povo venezuelano está a mobilizar-se para demonstrar a sua enérgica rejeição de mentiras e manipulações”, disse hoje o presidente Maduro, na sua conta no Twitter. Maduro não participou na manifestação em Caracas.
Autoridades, militantes e membros das milícias pró-Maduro, todos vestidos de vermelho, da cor do Chavismo, marcharam pelo centro de Caracas sob chuva, antes da manifestação se dispersar.
O número dois do regime, Diosdado Cabello, acusou Bachelet de ter feito um relatório “completamente parcial”, sob pressão dos Estados Unidos.
“O relatório de Bachelet é uma traição” aos venezuelanos, considerou.
Além da luta política entre o líder socialista e o líder da oposição, Juan Guaidó, a Venezuela, o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, atravessa a pior crise económica da sua história recente.
O protesto ocorreu poucos dias depois do acordo alcançado em Barbados entre o Governo e a oposição para o estabelecimento de uma plataforma permanente para o diálogo. Estes contactos foram conduzidos sob os auspícios da Noruega.
Na sexta-feira, a Venezuela utilizou também o Conselho de Direitos Humanos da ONU - no último dia de três semanas de sessões - para atacar o relatório crítico sobre a Venezuela apresentado pela Alta Comissária Michelle Bachelet neste organismo.
As acusações foram lidas pelo embaixador da Venezuela, Jorge Valero, e incluíam excertos de uma carta dirigida pelo próprio Presidente, Nicolás Maduro, a Bachelet, a quem acusa de “não ter escutado a Venezuela” e de ter recolhido apenas informação transmitida por interesses contrários ao país.
“Pode-se falar de ‘crise humanitária’ quando o Governo dos Estados Unidos despojou a Venezuela de 30 mil milhões de dólares dos seus ativos petrolíferos no estrangeiro e bloqueou e confiscou mais de sete mil milhões de dólares para a compra de alimentos e medicamentos?”, questionou Maduro na missiva.
O relatório elaborado pelo gabinete de Bachelet na semana passada, além de abordar a crise social e económica na Venezuela, aponta também diversas infrações aos direitos civis e políticos. O texto menciona em particular a “repressão e criminalização da oposição política” através de numerosas ações, assim como torturas e milhares de casos de execuções extrajudiciais.
Na sua carta, Maduro refere “um relatório repleto de falsas informações, tergiversações e manipulações no uso de dados e de fontes; ausente de equilíbrio e rigor, abertamente parcializado”.