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Espanha analisa oferta de Itália de transportar migrantes se for retirada bandeira do “Open Arms”

Foto Reuters
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O Governo espanhol disse hoje que vai analisar a proposta de Itália, que se ofereceu para levar os 100 migrantes a bordo do navio humanitário “Open Arms” para um porto espanhol se a bandeira do navio for retirada.

A questão será tratada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Espanha e, segundo fontes governamentais citadas pela agência de notícias espanhola Efe, serão “tomadas as medidas necessárias assim que se tiver conhecimento formal” do objetivo do pedido italiano.

O ministro italiano dos Transportes, Danilo Toninelli, ofereceu hoje a ajuda de um navio da Guarda Costeira italiana para levar para um porto espanhol os 100 migrantes que permanecem no navio humanitário da ONG espanhola detentora do navio, ancorado ao largo da ilha italiana de Lampedusa.

No entanto, o ministro exigiu que seja retirada a bandeira espanhola do “Open Arms”.

De acordo com a lei marítima, a bandeira determina que Estado tem autoridade, jurisdição e dever de proteção sobre o navio, mas esse poder é perdido assim que é retirada a bandeira.

A ministra italiana da Defesa em funções, Margarita Robles, tinha já adiantado esta manhã que o Governo iria oferecer “nas próximas horas” uma solução para o “Open Arms” face à situação de “emergência humanitária”, acrescentando acreditar que Espanha “não mostrará indiferença como está a mostrar o ministro Matteo Salvini”.

Em entrevista à rádio italiana RNE, Margarita Robles não revelou se essa solução envolve que os migrantes viajem para Espanha de avião, como solicitou a Organização Não Governamental (ONG) espanhola “Open Arms”, indicando apenas que o Governo faria o que entender ser “o melhor e mais apropriado do ponto de vista humanitário”.

Esta madrugada, a ONG anunciou ter recebido autorização para desembarcar mais oito pessoas “a necessitar de ajuda urgente”, entre as 107 que estão retidas ao largo da costa italiana há 18 dias.

“Quem não quer ver a situação insustentável a bordo é porque é incapaz de sentir empatia pela dor alheia”, escreveu a organização, depois de informar que a retirada destas pessoas, cuja situação e condições não foram reveladas, foi “autorizada”, noticia a Efe.

A crise do “Open Arms”, que mantém mais de 100 pessoas bloqueadas no mar há 19 dias, agudizou a tensão entre os governos de Espanha e Itália, e destes com a própria ONG, que continua a ver negada a possibilidade de rumar às Baleares e já propôs levar os viajantes de avião para Espanha.

A ONG Open Arms tinha já feito saber hoje que aceitaria que os migrantes fossem para algum porto das ilhas Baleares, caso Itália e Espanha “coloquem os meios necessários” à disposição para garantir a segurança e êxito da operação.

Isto, depois de, no domingo, o capitão do navio humanitário ter rejeitado as “inviáveis” ofertas do Governo espanhol para navegar até ao porto de Algeciras, primeiro, e depois a algum das Baleares -- em Maiorca ou Menorca -, devido à situação “desesperada” que se vive a bordo.

“Depois de 18 dias, Itália e Espanha parecem ter chegado finalmente a um acordo, identificando Maiorca como porto de desembarque”, disse a ONG, considerando a decisão “completamente incompreensível”, assinala num texto divulgado hoje.

A tripulação alegou a impossibilidade de assumir mais alguns dias de travessia com mais de 100 pessoas em condições extremas, amontoadas no convés com ataques de ansiedade, lutas e até alguns dos migrantes resgatados a atirarem-se ao mar no domingo, tentando nadar os 800 metros que os separam de Lampedusa.

Para tentar minorar o sofrimento das pessoas, a tripulação tem dado conta de várias atividades, tendo anunciado que chegou a comprar 100 pizas para distribuir pelos migrantes, angustiados pela situação.