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Construtores receiam Brexit sem acordo “catastrófico” para a indústria automóvel

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Um ‘Brexit’ sem acordo seria “catastrófico” para a indústria automóvel britânica, que já está a sofrer não só com a incerteza política, mas também com a transformação tecnológica, afirmou hoje o presidente da associação de construtores, Mike Hawes.

“Não sabemos exatamente o que vai acontecer nas fronteiras. Dizem-nos que vai correr bem. Mas tendo em conta a amplitude das nossas redes de fornecedores, atravessar as fronteiras é a maior fragilidade dessas redes”, afirmou o responsável aos jornalistas, à margem da Cimeira Internacional Automóvel, a decorrer em Londres.

O presidente da Associação de Produtores e Comerciantes do Setor Automóvel (SMMT) falava a propósito da ameaça de uma saída do Reino Unido da União Europeia (UE) sem um acordo a 31 de outubro, no final do prolongamento oferecido por Bruxelas, por Boris Johnson e Jeremy Hunt, os dois candidatos à sucessão da primeira-ministra, Theresa May.

Segundo Mike Hawes, a incerteza política causada pelo ‘Brexit’ está a desencorajar o investimento dos construtores nas instalações que têm no Reino Unido, por exemplo para desenvolver tecnologias para reduzir emissões ou veículos autónomos.

Para o responsável, o relatório aponta caminhos para o desenvolvimento que potenciem a economia e as exportações britânicas, mas vincou que é essencial um acordo que mantenha as relações com o principal parceiro comercial.

“A prioridade do próximo primeiro-ministro deve ser assegurar um acordo que mantenha o comércio sem atritos porque, para a nossa indústria, uma saída sem acordo não é uma opção e não nos podemos dar ao luxo de perder tempo”, apontou Hawes.

Um relatório publicado hoje pela SMMT do Reino Unido sobre a importância do comércio automóvel calcula que qualquer tipo de atrito possa adicionar custos de 50 mil libras (56 mil euros) por minuto, ou 70 milhões de libras (78 milhões de euros) por dia devido aos atrasos na circulação de peças e impacto na produção.

Por outro lado, os veículos ligeiros construídos no Reino Unido e exportados para a UE seriam sujeitos a novas tarifas, estimadas em 1,9 mil milhões de libras (dois mil milhões de euros).

Desde a crise financeira em 2009, quando o setor automóvel foi gravemente afetado no Reino Unido, o valor em termos comerciais aumentou 118%, de 47 mil milhões de libras (53 mil milhões de libras) para 101 mil milhões de libras (113 mil milhões de euros) em 2018.

A indústria automóvel é o maior exportador de bens britânico, representando 14% das exportações, segundo o relatório, mas uma saída do Reino Unido da UE sem acordo pode fazer o país cair do 10.º para o 14.º lugar, deixando-se ultrapassar pela Bélgica, Canadá, México e Rússia.

Os sinais já são preocupantes, de acordo com a SMMT: a produção de carros do Reino Unido caiu 9,1% relativamente a 2017, para 1,52 milhões de unidades em 2018, e o investimento desceu cerca de 46,5% para 588,6 milhões de libras (672 milhões de euros), contra 1,1 mil milhões de libras (1,26 mil milhões de euros) em 2017.

Em termos de postos de trabalho, o número de trabalhadores associados aos construtores caiu 3,5%, de 174 mil pessoas em 2017 para 168 mil e, no setor em geral, desceu 1% de 831 mil em 2017 para 823 mil em 2018.

Um estudo promovido no ano passado pela CIP - Confederação Empresarial de Portugal com o apoio da Ernst & Young - Augusto Mateus & Associados (EY-AM&A) identificou as exportações do setor automóvel, juntamente com o turismo, como as duas áreas que mais podem sofrer com o ‘Brexit’ em Portugal.

O Reino Unido é o quarto maior destino e atrai 8% das exportações de componentes automóveis produzidos em Portugal, que, de janeiro a abril, representaram 249 milhões de euros, mas com uma quebra de 15,1% relativamente ao mesmo período do ano anterior, segundo a Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA).