Madeira

Integridade da Laurissilva é condição para que UNESCO possa admitir asfaltagem de estrada

FOTO Orlando Drumond
FOTO Orlando Drumond

O presidente Comissão Nacional da UNESCO, Moraes Cabral, disse hoje que não haverá oposição à asfaltagem da estrada das Ginjas, na ilha da Madeira, desde que antes se “confira” a integridade da Floresta Laurissilva, classificada como património mundial.

“Não tenho nada contra a que a estrada [das Ginjas] seja alcatroada, desde que se confirme, antes, com a UNESCO, e que isso não afecte o valor e a integridade do bem que é a Laurissilva. O que recomendaria vivamente era que qualquer acto ou impacto sobre o bem fosse aferido com a UNESCO e com o Centro de Património Musical”, concretizou à Lusa o embaixador José Filipe Moraes Cabral.

A estrada das Ginjas, em São Vicente, na zona norte da ilha da Madeira, encontra-se numa área de reserva geológica e em plena Floresta Laurissilva, património mundial da humanidade classificado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

“Tenho total confiança nas autoridades da ilha da Madeira e em que as regras serão cumpridas caso se entenda avançar com o alcatroamento da estrada das Ginjas”, enfatizou o responsável da UNESCO em Portugal.

José Filipe Moraes Cabral lembrou “que já há alguns anos se fala no alcatroamento da estrada das Ginjas”, e que ainda “não foi efectivado”.

O presidente da Comissão Nacional da UNESCO falou à Lusa à margem da conferência sobre Património Mundial e Alterações Climáticas, que decorreu hoje no Museu do Côa, em Foz Côa, no distrito da Guarda.

A estrada das Ginjas foi aberta em terra batida na década de 1980 do século XX, e estabelece a ligação entre o concelho de São Vicente, no norte da ilha da Madeira, e o planalto do Paul da Serra, numa distância de cerca de 10 quilómetros.

O Governo Regional da Madeira anunciou, recentemente, que vai proceder à sua asfaltagem, obra orçada em sete milhões de euros, que recebeu o parecer favorável da Câmara Municipal de São Vicente.

Esta floresta endémica do norte da ilha da Madeira foi declarada património natural da humanidade em 1999 pela UNESCO.

O ‘site’ da Direcção Geral do Património Cultural (DGPC) lembra que a floresta Laurissilva “constitui na actualidade o remanescente de um coberto florestal primitivo que resistiu a cinco séculos de humanização”.

Segundo narrativas contemporâneas da descoberta da Madeira (1420), toda a ilha possuía “um extenso e denso arvoredo, razão pela qual os navegadores portugueses atribuíram o nome de ‘Madeira’, à ilha”.

“Trata-se de uma floresta com características subtropicais, húmida, cuja origem remonta ao Terciário onde chegou a ocupar vastas extensões do Sul da Europa e da bacia do Mediterrâneo”, escreve a DGPC.