Vida, éticas e Vincent Lambert

Realizou-se a semana de defesa da vida humana (12-19 maio) e parece que, em tempo de cultura e morte, bem preciso é defender a vida dos seres humanos contra os lobos devoradores e os que vão fazendo descarte das pessoas consideradas vidas sem utilidade.

No dia 21 de maio 2019 Vincent Lambert está no hospital universitário de Reims, tetraplégico de um acidente. Não toma medicamentos, nem precisa; precisa, sim, de ser alimentado, hidratado por sonda e receber cuidados para se manter com vida, sem ficar com escaras. Abre os olhos, respira normalmente, sem máquinas. E querem tirar-lhe a alimentação para o deixar morrer. Tem-se multiplicado as correntes e contendas éticas, desligadas dos dez mandamentos, do Evangelho e da fé em Deus criador e Senhor da vida com o pretexto, (mesmo de alguns católicos) de que convém aplicar as filosofias e éticas sem religião, sem Bíblia, sem cristianismo, por terem mais confiança nelas e poderem ser aceites por todos, como não acontece com a ética cristã católica. Entretanto proliferaram as escolas e correntes de ética sem Deus, mas o nível ético continua a descer até à desumanidade, apontando-se a contradição de a Bélgica e a Holanda, onde desceu mais, serem, supostamente, países modelos de ética. Porquê? Por neles se poder “matar” doentes, adultos e crianças com mais facilidade; e deitá-los fora como lixo. Noutros países ainda se respeita um pouco mais o direito à vida, o direito humano número um, mas esses são considerados países atrasados.

Com efeito, alguns defensores destas éticas à deriva decidiram que Vincent Lambert devia morrer porque a sua vida não é útil e já não merece ser alimentado. Ia-lhe ser retirada alimentação no dia 21 de maio. Não interessava a obrigação de cuidar da sua vida do governo francês, o qual se comprometeu a defendê-la em 18.02.2010 ao assinar as diretivas do Comité de Defesa das Pessoas Deficientes (CDPH) da ONU, como lembra a carta ao presidente da república (18.05.2019) dos advogados dos pais de Vincent Lambert. É triste que o Conselho de Estado francês concordasse com a morte de Vincent. Entretanto o ex-campeão da Formula 1, Michael Schumacher, apesar de ser um caso semelhante continua rodeado de cuidados. E ainda bem, não lhe foi aplicada a moda de o considerar um ser humano como «robot funcional», como disse D. Michel Aupetit, arcebispo de Paris, médico, na sua declaração de defesa da vida de Vincent Lambert em que reprovou que se possam deitar fora as pessoas quando já não tem utilidade. O Vincent foi salvo in extremis por sentença do Tribunal de Apelo de Paris que obrigou, na tarde do dia 21, a não interromper a sua alimentação e hidratação.

Circulam muitas teorias, ateias ou não, de melhorar a humanidade com estes descartes. As pessoas que as defendem com boa intenção merecem o respeito, não o merecem, contudo, as suas teorias éticas de poder tirar a vida às pessoas a quem nem sequer se estão a aplicar tratamentos excessivos ou encarniçados, como no caso do Vincent que não estava a receber medicação. O que os pais pediam para ele é que o deixassem viver e que o deixassem transferir para uma das sete instituições dispostas a continuar a dar-lhe alimentação e líquidos.

Não deixa de impressionar que através dos tempos muitos estudiosos lembrem e citem os famosos filósofos gregos da antiguidade como Aristóteles, Sócrates e outros, como modelos de teorias éticas e se esqueçam de citar Cristo. Esquecem a informação de que esses «éticos» concordavam e defendiam o sistema que mantinha na escravatura mais pessoas que aqueles a quem reconheciam como cidadãos livres; permitiam que os pais matassem os filhos deficientes e mesmo não deficientes. Tantas teorias também esquecem que o Cristianismo forma um todo mais ético que qualquer outra corrente ou ideologia. Associado à fé em Jesus Cristo, Filho de Deus, existe a «Sua» Comunidade Cristã, a Igreja, formada de todos os que O aceitam, e aceitam, como Ele, defender os pobres, doentes, crianças e deficientes como Ele defendeu. E mais. Vivem com eles. Uma comunidade que não siga Jesus também nesta ajuda e comunhão de vida e, em vez disso, abandone os pobres e doentes e escandalize as crianças, não se pode dizer cristã.