Estatísticas. Quanto valem?

Embora as mortes por suicídio em Portugal, tenham baixado, segundo um mapa com fundo negro, publicado por um jornal, os portugueses sofrem mais do miolo. Lido o gráfico, ele diz-nos que as perturbações mentais e do comportamento dos nacionais, aumentaram, mas não se traduziram no número mais elevado de suicídios o que poderá parecer uma contradição. Mas não. Indicam-nos apenas, de que afinal os portugueses não estão tolinhos de todo. No fundo, ainda lhes resta uma qualquer esperança que os possa tirar da angústia em que vivem, e teimam em manter-se com vida, vivendo-a na precariedade. Forte razão deve haver que explique o porquê disto nos acontecer. Qual a razão e a causa para que sejamos os primeiros em tudo quanto é mau, e deficientes no que tem a vida de mais apetecível, saboroso e importante. Relido de alto a baixo o apresentado mapa negro, ilustrado por símbolos que revelam as causas principais de morte no país, e somados todos os que delas são vítimas, verificamos que os portugueses vivem sob a ameaça de bombas várias, que atentam à sua sobrevivência, e muitos morrem mesmo, sem tempo de dizer ai nem ui, ao som de um réquiem silencioso qualquer. Num desconcerto desafinado, e com estrelas só no céu. Qual então a explicação para que tal aconteça, a nós, o povo mais pobre da Europa comunitária? Será só por mero acaso, fatalidade, destino, sentença, maldição antiga de que não nos livramos? Não! É por não termos quem governe com decência, dignidade e respeito pala vida humana, e por terem-nos negado durante muitos anos, condições básicas, para uma melhor qualidade, de vida. Os que sofrem, os que perderam tudo o que completa uma pessoa e/ou uma família, os marginalizados, os que enveredaram por via disso pela perda da auto-estima, adoecem com mais facilidade do que aqueles que encontram maior equilíbrio, estabilidade, segurança, comodidade e os afectos firmes e incontestados. São os que se viram de repente com a vida de pernas para o ar, num conflito duradoiro, quase permanente, e desistem por falta de meios e oportunidades, para beneficiarem de cuidados de saúde, e com o resto que faz feliz um ser humano. As bombas que nos põem no caminho, escondidas, mas que rebentam em nossas casas e nos ferem e matam, tem uma origem entre outras - os governos da nação e as suas políticas económicas-financeiras de austeridade, de falta de emprego digno, que resulte em reforma de jeito na idade adequada, certo e remunerado, que estão na base destes aumentos das doenças e de conflitos graves. Não reconhecer isto, é querer continuar a esconder as bombas por entre a multidão que ao deflagrarem apanham este mais aquele, que corre desorientada na tentativa de se salvar, no percurso :- casa-farmácia-hospital-casa desfeita-abandono-negritude-caixão. Por isso somos o país aonde as doenças do cérebro, AVC, isquemias, sistema cardiovascular, pneumonias, e os tumores malignos, são as mais responsáveis pelas mortes registadas. Ou não será assim, e tudo se resume a uma qualquer herança genética, um fado, um mau-olhado, uma praga, ou coisa pestilenta e sem cura? O que dirão os inteligentes, que são normalmente os que perpetuam este estado de vida, com falinhas mansas e meigas? Quem tiver ainda paciência que os oiça. Eu já desisti, não vá suicidar-me e estragar as estatísticas!

Joaquim A. Moura