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Publicada biografia de Leonard Cohen, o músico nascido de fato completo

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A biografia do músico Leonard Cohen escrita ainda em vida, com ajuda do ‘cantautor’, pela jornalista Sylvie Simmons, especializada na área musical, chega hoje às livrarias portuguesas, editada pela Tinta-da-China e ilustrada com fotografias e documentos.

“I’m your man: A vida de Leonard Cohen” apresenta-se como um olhar íntimo, único, privilegiado e com várias surpresas, sobre o escritor de canções canadiano, responsável por músicas como “Suzanne”, “Hallelujah” ou “I’m your man”, revelando-o no seu génio e processo criativo, nas suas inseguranças e medos, na sua vivência, nos seus amores e amantes, no papel de pai e naquela elegância que sempre o caracterizou e que ele considerava congénita: tinha nascido de fato completo, como o próprio se apresentou certa vez à jornalista.

Foi em 2001, durante uma entrevista de Leonard Cohen a Sylvie Simons, que esta assinalou a elegância do músico, descrevendo-o como um homem “cortês, elegante, com modos de antigamente” e que no vestuário era “aprumado e sóbrio”, “irrepreensível”.

“Neste momento, veste um fato completo. É de tecido escuro, listado, assertoado e, se foi comprado numa loja de pronto-a-vestir, não parece”, afirmou. Mas Leonard Cohen retificou-a: “Querida, eu nasci de fato completo”.

Esta alusão de Sylvie Simmons ao aprumo do músico haveria de surgir mais vezes, fundamentada nos vários encontros que a escritora teve com o cantor ao longo do processo de elaboração da biografia - que se estende ao longo de mais de 600 páginas -, o que lhe permitiu escrever uma obra de acesso privilegiado ao protagonista e à sua vida.

Além deste acesso sem paralelo ao próprio Leonard Cohen, Sylvie Simmons contou também com várias entrevistas feitas a amigos, produtores, músicos da sua banda e a algumas das mulheres da sua vida.

Considerado um dos mais influentes artistas mundiais, durante os seus 50 anos de carreira, Leonard Cohen foi também um dos mais esquivos e difíceis de conhecer, pelo que Sylvie Simmons apresenta, como nunca antes, a vida e o génio criativo de Cohen, ao mesmo tempo que guia o leitor numa viagem por toda a sua obra.

A jornalista inglesa reconhece contudo que este acesso privilegiado poderia ter tido o efeito contrário, condicionando a sua escrita, no sentido de agradar ao biografado.

“Escrever uma biografia, sobretudo de alguém que ainda está vivo, implica mergulharmos na vida dessa pessoa numa escala que, provavelmente, em qualquer sociedade saudável, nos valeria sermos encarcerados numa prisão”, escreveu a autora em maio de 2012.

Mas isso não aconteceu e deve-se sobretudo ao próprio Leonard Cohen e à sua “tolerância”, “confiança”, “sinceridade”, “generosidade” e “bom humor”, sem os quais “este livro não seria o que é”.

“Ele perguntou-me como é que corria a escrita do livro -- um livro, devo acrescentar, que ele não me pediu que escrevesse nem me pediu para ler, sem por isso ter deixado de me prestar um auxílio precioso”, esclareceu, acrescentando que o seu único interesse era “certificar-se de que não se tratava de uma hagiografia”.