Homem e Mulher

Homem é homem, mulher

é mulher…

Ou já ninguém sabe?

Vivemos numa época estranha. Antigamente, quando alguém nascia, bastava um olhar rápido e estava decidido: “é rapaz” ou “é rapariga”. Não havia discussões, fóruns online, especialistas em género ou hashtags militantes. Hoje, se dizes isto, arriscas logo a ser apelidado de retrógrado, ignorante ou, a palavra da moda, “intolerante”.

A verdade é que a sociedade está baralhada. Temos homens que juram ser mulheres, mulheres que juram ser homens, e um batalhão inteiro que prefere não ser nada — ou melhor, “não-binário”. O curioso é que todos querem respeito, mas muitos não respeitam a inteligência comum das pessoas que olham para isto e dizem: “espera lá, mas afinal em que mundo é que estamos?”.

Ninguém aqui está a negar que há quem sofra, que exista gente desconfortável no seu próprio corpo. Isso sempre houve — só que agora passou a ser bandeira política, espetáculo mediático e até passaporte para curtidas nas redes sociais. Antes, um problema era tratado com psicologia, silêncio e dignidade. Agora, é tratado com cartazes, megafones e campanhas publicitárias.

E o pior: as crianças. Antes, os miúdos brincavam na rua, jogavam à bola, iam ao rio apanhar peixe ou partiam o joelho na bicicleta. Hoje, mal sabem ler e já lhes perguntam se têm a certeza absoluta de que são “meninos” ou “meninas”. É como oferecer a um puto de cinco anos a carta de condução: não tem idade, nem maturidade, mas já se espera que faça escolhas de vida irreversíveis. Quem inventou isto devia ter vergonha.

No meio disto tudo, há também os modismos. Se um artista famoso decide “transitar”, é manchete durante semanas. Se uma influencer aparece a dizer que descobriu o “verdadeiro eu” aos trinta anos, enchem-se capas de revistas cor-de-rosa. E quem ousa levantar a sobrancelha ou rir-se da situação, é logo linchado digitalmente. O humor morreu — agora tudo é ofensivo.

O resultado? Uma sociedade às voltas com conceitos inventados, enquanto as coisas básicas ficam esquecidas. O preço da comida dispara, o salário mal chega até ao fim do mês, os hospitais estão cheios, mas o que ocupa debates intermináveis é se devemos dizer “todos”, “todas” ou “todes”. Parece brincadeira, mas é verdade.

Não me interpretem mal: cada um faz da vida o que bem entender. Se um homem quer usar saia, que use. Se uma mulher quer rapar o cabelo, que rape. Mas não tentem obrigar o resto do mundo a fingir que a realidade deixou de existir. Porque, por mais que se inventem etiquetas novas, o corpo humano continua a ter cromossomas, e esses não se alteram com hashtags ou hormonas.

O que me preocupa é a confusão instalada. As pessoas já têm dificuldade em lidar com problemas simples, quanto mais com uma enxurrada de géneros novos que aparecem todos os meses. Um dia destes, já nem sei se posso dizer “bom dia, senhor” sem arriscar uma reclamação por “violência linguística”.

No fim das contas, acho que a sociedade precisava era de parar, respirar e voltar ao básico. Homem é homem, mulher é mulher. Sempre foi assim. Quem não se sente bem no corpo que tem merece ajuda, não espetáculo. E, sobretudo, as crianças merecem crescer sem serem transformadas em laboratório social.

Talvez um dia acordemos deste delírio coletivo e percebamos que complicámos o que era simples. Até lá, continuaremos nesta novela interminável de confusões identitárias — enquanto a vida real, aquela que nos põe comida na mesa, continua a ser ignorada.

António Rosa Santos