Damas de Beneficência na Venezuela aproximam crianças da cultura portuguesa
A Sociedade de Beneficência de Damas Portuguesas (SBDP) de Caracas usaram o período das férias grandes escolares para aproximar crianças lusodescendentes carenciadas das suas raízes, da língua e cultura portuguesas.
O projeto "Aprender português a brincar nas férias", durou nove semanas e permitiu a mais de duas dezenas de crianças lusodescendentes de 6 aos 14 anos de idade, aprenderem o básico para se comunicarem em língua portuguesa e inclusive cantarem canções populares.
"Idealizámos este projeto porque tínhamos as pessoas que ajudamos a vir com os netos e percebemos que já estavam a perder a língua portuguesa. Mesmo que os avós em casa falem português, elas respondem em espanhol. A aposta foi incentivar o amor pela língua portuguesa", disse a presidente da SBDP.
Lucecita Fernandes falava à agência Lusa, à margem da cerimónia de entrega de certificados, que decorreu na sede daquele organismo.
"Valeu apena. A aposta foi ensinar-lhes também que a língua portuguesa pode abrir-lhes portas para um futuro melhor. Tivemos aqui crianças que queriam aprender e, do nosso lado, a vontade de as acompanhar e ensinar", explicou, precisando que a SBDP está já a preparar o 2.º nível de formação.
Presente no evento, o embaixador de Portugal na Venezuela, João Pedro Fins do Lago, sublinhou o "profundo sentimento de orgulho e alegria" ao ouvir as crianças apresentarem-se e cantarem em português.
"É, através de iniciativas como esta, movidas por um voluntarismo incansável e um amor incondicional pela nossa cultura que mantemos viva a chama da nossa identidade", disse o diplomata.
Por outro lado, elogiou a professora e os familiares ao incentivarem as crianças a aprenderem português.
"Estão a dar-lhes uma herança e uma ferramenta preciosíssimas. Estão a oferecer-lhes não apenas as palavras e gramáticas de uma língua, mas sim um passaporte para uma cultura riquíssima e para um futuro de oportunidades, que lhes abre as portas do mercado mundial do trabalho, mais tarde. E, mais importante que tudo, estão a fortalecer os laços que nos unem a todos", disse.
O diplomata recordou que mais de 360 milhões de pessoas falam português e afirmou-se satisfeito porque há uma expansão muito significativa do ensino de português na Venezuela.
"Levem este conhecimento com orgulho. Usem-no para falar com os vossos avós, com os vossos pais, com a vossa família, para cantar as nossas músicas. E um dia mais tarde, para viajar e descobrir que o português é uma chave que vos vai abrir as portas do mundo e inteiro. Em nome do Governo de Portugal, felicito-vos. Que esta seja apenas a primeira de muitas conquistas no vosso caminho da descoberta da língua portuguesa", disse.
Em declarações à Lusa, a professora de português Ana Maria de Abreu, responsável pelo projeto, sublinhou a importância de estas crianças terem "um contacto mais próximo com Portugal".
"Reparamos que elas não falavam português, apenas castelhano. Muitas delas têm os pais emigrados fora da Venezuela e estão aos cuidados dos avós. Fizemos o curso para as unir aos antepassados e para que tivessem um vínculo com Portugal através da língua portuguesa", disse.
Ana Maria de Abreu explicou ainda que as crianças "saíram com um vocabulário extenso e a cantar em português".
"Tivemos a oportunidade de visitar no Centro Português os monumentos que representam a cultura portuguesa, como a casinha de Santana, o galo do Barcelos, o azulejo com a Torre de Belém e o quadro de Vaz de Camões (...) Conseguiram ter um elo com a terra-mãe, e nunca vão esquecer o que viram, o que sentiram, o que cantámos, o que aprendemos", explicou.
O projeto, segundo o coordenador do ensino da língua portuguesa na Venezuela, Rainer de Sousa, contou com o apoio da Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas, através do Consulado e da Embaixada de Portugal em Caracas, e do instituto Camões.