Quando a sociedade falha, falhamos todos…
Quando assim é a sociedade falha e quando a sociedade falha, falhamos todos. De uma forma ou de outra é para esta guerra que estamos a trazer as novas gerações
22 de Agosto de 2025. A ucraniana Iryna Zarutska entra no metro em Charlotte, nos Estados Unidos. Longe de saber que passados uns breves minutos estaria morta, vítima de um ataque hediondo e cobarde, perpetrado por um monstro que se acercou de costas e de forma inopinada lhe desferiu várias facadas que se revelariam fatais. As câmaras de segurança filmaram o ato e rapidamente o mundo inteiro viu as cenas de terror que a mim pessoalmente me deixaram agoniado e emocionado. Ficam as perguntas de como é possível alguém tomar a iniciativa de, sem nenhuma razão plausível, num ato indiscriminado, ter o ímpeto de realizar algo assim. As imagem deixam um sabor a choque brutal, sem filtros e pouco espaço para a imaginação ou desculpas esfarrapadas. Ao contrário de outros, que tudo usam para acicatar as hostes e levantar a bandeira do racismo quando as cores da contenda são ao contrário, eu não entro nem entrarei por aí. Para mim foi um louco, nojento que num laivo abjecto e sem vergonha se prestou ao serviço de tudo o que significa a maldade e o desrespeito pela vida humana. E uma pessoa destas não merece estar inserida numa sociedade, não pertence aos nossos valores nem ao que defendemos. Podem vir com as desculpas que quiserem mas ninguém tem o direito de tirar a vida de outra pessoa muito menos desta forma completamente aleatória.
Mas no vídeo a que todos pudemos assistir há algo que me transtorna quase tanto como o vil comportamento do monstro. Foram as pessoas que estavam à volta que mal esboçaram uma reação, que passaram pela menina e saíram sem lhe prestar auxilio, seguindo a sua vida, quase impávidos e serenos como se nada se tivesse passado. Vemos isso recorrentemente nos nossos dias. Vitimas de maus tratos, gente assediada, ofendida e agredida mesmo nas barbas de tantos e ninguém quer saber, poucos tomam uma atitude. Percebo que a vida é difícil, que todos temos os nossos problemas e que não precisamos de atrair mais. Mas a verdade é que existe por aí muito cúmplice silencioso de crimes, agressões e atitudes violentas que permanecem calados como se fosse melhor assim para todos. É fácil olhar para o outro lado, não querer saber, não nos metermos e fugirmos das confusões mas é nosso dever enquanto cidadãos de não nos sentirmos confortáveis ao ver outros sofrerem aos nossos olhos sem que nada façamos nem sequer uma denuncia às autoridades. Conheço um caso assim bem próximo. Um filho que agride e humilha a mãe e os familiares e amigos se deixam ficar calados sem que tomem uma atitude nem denunciem o caso a quem o podia resolver.
Também por estes dias foi assassinado Charlie Kirk, um ativista norte-americano de extrema direita. Movido pelo ódio e pela desumanização do outro, um assassinato que ultrapassa todas as leis da civilidade e da vida em comunidade e em democracia. Por cá foi um forcado que sucumbiu em frente a um toiro em plena arena do Campo Pequeno. Em ambos os casos, gente que é contra as toiradas ou não comunga da mesma ideologia regozijou-se perante a partida de ambos. Como se a vida fosse olho por olho, dente por dente. Pessoas que se arrogam defensores da lei fundamental e que se mostram contentes pela partida de alguém. Seja em que circunstâncias for, de que forma for ou o motivo. Se não pensa como nós, se faz coisas que nós não gostamos então ainda bem que se foi. É bem diferente o pensamento antagónico, a defesa de um modo de estar e de entender o mundo de forma díspar, do desejo que se possa ter ou da satisfação pela morte, pelo desaparecimento. Indiferentes às famílias que sofrem, aos filhos que ficam sem uma mãe ou sem um pai ou ao que todos devíamos defender como ultima barreira perante a anarquia ou o extremismo.
Quando assim é a sociedade falha e quando a sociedade falha, falhamos todos. De uma forma ou de outra é para esta guerra que estamos a trazer as novas gerações. Um tempo polarizado em que ou se está de um lado ou de outro e em que quem está do outro é para desfazer ou aniquilar. Não consigo pensar assim.
Frases soltas:
A flotilha dos unicórnios e das fadas lá segue o seu caminho em direção a Gaza. Sem colocar em causa a necessidade que todos temos em refletir sobre o que se está a passar e em nos insurgirmos contra a morte de tantas crianças e inocentes, não me parece que politizar e instrumentalizar o caso através de um circo mediático que divide e o carrega de superficialidade, seja o caminho nem a forma.
Milhões de pessoas protestaram no Reino Unido contra a imigração desregrada que vai grassando um pouco por toda a Europa. Chegará em breve um tempo em que os protestos se transformarão numa guerra de proporções inimagináveis.