A coragem de fazer diferente

Em política, a vontade de alcançar um objetivo choca frequentemente com a realidade do sistema existente. Queremos mudar algo de forma radical ou seguir um caminho diferente, mas as regras e tradições do sistema político impedem-nos de o fazer. É como tentar construir uma casa num local proibido. Por mais que a nossa visão seja boa, por mais que acreditemos ser a melhor solução, a legislação e o sistema imposto por um modelo de gestão que se tornou caduco e ultrapassado não o permitem. Este modelo, que em grande parte não resolveu os problemas básicos da população, coloca-nos perante uma escolha.

Desistir do nosso objetivo.

Insistir e tentar quebrar o sistema, um caminho difícil e com resultados incertos.

Aceitar a forma tradicional, mesmo que não seja a ideal.

Muitas vezes, a terceira opção é a única viável no imediato. Temos de aceitar o “jogo” tal como ele é, utilizando os canais e as ferramentas que a política nos oferece. Num país e numa região com uma cultura democrática ainda em desenvolvimento, onde os vícios e as tendências continuam enraizados na sociedade, a mudança radical é rara. A mudança gradual, através dos métodos tradicionais, é a norma. Isto pode ser frustrante, mas é a forma de garantir que as nossas ideias, mesmo que adaptadas, possam ser implementadas.

A maior vitória nem sempre é a mudança imediata e total. Muitas vezes, reside em conseguir que a nossa visão seja aceite e ganhe forma, mesmo que isso exija compromissos e um longo processo de adaptação aos moldes existentes. É o realismo político a sobrepor-se ao idealismo.

Contudo, a mudança é possível. Defender os nossos princípios, valores e agir com coragem pode abrir o caminho para uma nova forma de fazer política e de estar em democracia. Se a coragem vencer o medo, nada impedirá que, progressivamente, possamos mudar Portugal. Só com a determinação de uma equipa de trabalho, transformando promessas em compromissos, e com o fundamental: o eleitorado a acreditar que é possível fazer o que ainda não foi feito, para podermos devolver a democracia aos cidadãos.

A. J. Ferreira